sexta-feira, 31 de maio de 2013

Darcy Ribeiro, o guerreiro sonhador

     

"Vivo sou, vivo e mortal. Morto serei, morto e imortal. Tenho em mim o anel do tempo. Sou o princípio e o fim de mim. No fim me principio outra vez e sempre. Minha carne apodrecível, não está finando não. Está é parindo minha alma, livre, afinal para durar eternamente. É ela que, eterna, me dá continuidade." (Darcy Ribeiro)



        Darcy Ribeiro (1922-1997),  aqui representado no traço de Jeferson Nepomuceno, foi um pensador humanista e um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX, que se tornou conhecido mundialmente por suas pesquisas nas áreas de educação, sociologia, etnologia e antropologia.
        Na semana passada, a TV Senado levou ao ar um bonito documentário, no qual vários depoimentos costuram a história desse guerreiro sonhador e multifacetado. O filme será reprisado  no dia 2 de junho, às 12h30, no mesmo canal.
        Intitulado Darcy - Um brasileiro e dirigido por Maria Maia, é um passeio pela vida do antropólogo, escritor e político conhecido por seu especial interesse nos povos indígenas brasileiros e por sua preocupação em buscar soluções eficazes para a educação, no país.
        Como antropólogo, defendeu os índios; fundou o Museu do Índio; ajudou na criação do Parque Nacional do Xingu; e documentou várias etnias em livros e fotografias.
        Como educador e professor, membro da Academia Brasileira de Letras, fundou a Universidade de Brasília, instituição da qual foi o primeiro reitor, no início dos anos 1960; criou a Lei de Diretrizes Básicas da Educação; foi o idealizador dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). E foi um dos idealizadores do Sambódromo carioca.
        Como político, foi chefe da Casa Civil do governo de João Goulart, lutou contra a ditadura e foi exilado. Nos anos 1970, no exílio, teve câncer de pulmão. Foi desenganado pelos médicos. Pediu aos militares autorização para voltar ao Brasil, onde queria morrer. Voltou, e não morreu... Depois da Anistia, fundou o PDT com Leonel Brizola, de quem foi vice-governador, no Rio de Janeiro; e também foi senador da República. 



        Em 1995, pela segunda vez driblou a morte: fugiu do hospital onde era tratado de  câncer, porque não suportava o ambiente da UTI, e porque queria terminar de escrever seu livro O Povo Brasileiro. Fugiu, escreveu, e viveu mais dois anos!

                  

        O documentário apresenta o Darcy dos índios, que dedicou dez anos de sua vida a entendê-los; o Darcy educador, que defendia que as crianças passassem o dia todo nas escolas (“escola de turno é uma invenção brasileira”, criticava); e o Darcy dos livros, entre tantos outros “fazimentos”, como ele gostava de dizer.
        Mas a história mais emocionante sobre Darcy Ribeiro é contada por uma das médicas que cuidou dele. Pouco tempo antes de morrer – e percebendo que o fim se aproximava –  pediu: “doutora, estou com vontade de dar uma aula, a senhora não me traz uma criança pra eu dar a aula?”. Deu aula a uma criança de 9 anos. Falou sobre o Brasil, sobre a importância de respeitar todas as culturas, a dos índios, a dos brancos, a dos negros e a dos mulatos. Falou sobre escolas e sambódromos: era o testamento que ele queria deixar.

        Agora imortal e eterna, sua alma generosa, sonhadora e tão cheia de amor pelo Brasil vive materializada nos seus depoimentos e entrevistas e na lembrança do seu sorriso.







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