sexta-feira, 8 de agosto de 2014

OLHAR ALÉM


“O meu olhar é nítido como um girassol,
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

O Meu Olhar – Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)


A dificuldade em fixar o olhar, tira mesmo a nitidez das coisas, dos fatos, das pessoas.
Pode embotar os sentidos e deixar perdido o mais talentoso e esforçado dos seres humanos.
As duras exigências do cotidiano podem ser uma boa justificativa. Pena (ou graças), porque boas justificativas não nos salvam do sofrimento. Não aquietam a alma, quando ela insiste em “gritar” que algo está fora do prumo...
A qualidade dos relacionamentos é um termômetro preciso, quase impiedoso, mas redentor!
Um dos mais implacáveis é o desafio de ser pai.
Que oportunidade! De se refazer, se recriar, através do ser mais desafiador – seu próprio filho! Mas a recriação há que ser respeitosa, com o entendimento de que este filho é, por mais parecido que seja com quem o gerou, outro ser. Único, com diferentes anseios, com luz própria. É preciso que haja aceitação, sem a qual não há comunhão.
Que presente diferente, sem igual, irrecusável! Infeliz daquele que não compreender tamanha dádiva...
Vida profissional e vida pessoal, são aspectos de um só ser, que coexistem e interagem. O resultado? Um ser humano mais completo, mais coerente, mais feliz. Melhor em tudo.
Fácil? Não. Simples? Nunca. Mas é sempre bom – muito bom.
Poucos desafios podem ser maiores ou mais gratificantes.
Pelo Dia dos Pais, parabéns àqueles que disseram “sim” e continuam gerando amor, dedicação, tenacidade!






























Edição n.º 947 - página 07

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