sexta-feira, 10 de abril de 2015

Trem das Onze



Com o mesmo título da mais famosa composição do valinhense Adoniran Barbosa — “Trem das onze” — dois interessantes textos foram publicados na  Folha de S.Paulo.
O de Vera Magalhães, do dia 17 de fevereiro, levava em conta, entre outros temas, projetos relativos ao transporte urbano: “No final do ano passado, o IDS — instituto ligado a Marina Silva — promoveu um evento para lançar a plataforma “Brasil Democrático e Sustentável”, conjunto de propostas elaborado pela ex-senadora e por colaboradores. O ambientalista Sérgio Leitão, um dos convidados do debate, apontou o descaso de governos com o transporte público em grandes cidades. Lembrou que, em 1964, Adoniran Barbosa dizia que precisaria abandonar a namorada às 23h para não perder o último trem. Hoje, as estações em São Paulo fecham à meia-noite. Cinquenta anos depois, o máximo que o poder conseguiu oferecer aos pobres foi uma hora a mais de amor!”


Já a senadora Marta Suplicy escreveu no dia 3 de abril que “falta tudo. Vá a um dos encontros organizados pela Câmara Municipal nas subprefeituras. Parece que São Paulo parou no tempo. No Jaçanã, zona norte, na parte mais carente a demanda é a mesma faz anos. O metrô que não chega nunca, o transporte de ônibus é insuficiente e de péssima qualidade. Com o desastre das contas deste primeiro bimestre lembrei de Adoniran Barbosa: se São Paulo perder esse trem...”
Mas no mesmo jornal, outro comentarista já apontava a perda do “trem das 11”, da volta ao passado e da falta de projeto para o futuro em que São Paulo (a cidade mais importante do Brasil) e o próprio país estão metidos. Segundo Fernando Canzian (Folha de S.Paulo, 02/04), “os movimentos de Lula e Dilma mostram o tamanho do atraso político e econômico em que estão metidos. Como ficaram ultrapassados e estão caindo de podres. Depois de 30 anos de redemocratização e 20 de estabilização econômica é como se chegássemos no futuro voltando ao passado. E sem projeto de futuro”.



E o jornalista Gaudêncio Torquato (www.jfolharegional.com.br, 05/04) reconhece que, de modo geral, “a classe política está apavorada. Recebe tiros de muitos lados. Do Lava Jato, da Petrobras e das ruas. Os estarrecedores índices de desaprovação dos atores políticos os deixam confinados na UTI do Parlamento. Como sair dali? Como resgatar parcela da boa imagem? Difícil tarefa no curto prazo. Não resta outra coisa aos representantes do povo e dos Estados (deputados e senadores), neste momento de rebuliço e mobilização social, que uma imersão profunda no terreno ético e uma aprendizagem rápida sobre o estado social do país. A análise sobre as razões que os jogam no fundo do poço da descrença poderá se transformar na chave para reencontrar o tempo perdido”.
Ou seja, estão os políticos todos (com poucas e honrosas exceções) precisando correr muito atrás do descarrilado “trem das 11” para recuperar o tempo perdido e não perder o trem da história.

















Edição n.º 982 - página 01







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