sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A revolução do Papa Francisco






O que é ser revolucionário? O dicionário explica que revolucionário é aquele que provoca revoluções, que é favorável a transformações radicais, que é progressista, inovador. E destaca como sinônimos: agitador e amotinador. E ao se referir a revolução, explica que é o ato ou efeito de revolucionar ou de revolver, de sublevação, de rebelião, de revolta, de insurreição, de subversão, esclarecendo que muitas foram as revoluções liberais do século 19, implicando mudança profunda ou completa, causando revolução nos costumes, nas artes e nas ciências.

No sentido apontado pelo léxico, o Papa Francisco pode ser considerado revolucionário? Em recente documento, uma exortação apostólica intitulada “Evangelii Gaudium” (A alegria do Evangelho), dirigido não só aos fiéis, mas ao mundo e a quem interessar possa, o Papa Francisco adota uma posição revolucionária, notadamente para os cânones (padrões e princípios) da Igreja Católica. Nesse chamado que considero um apelo, o papa engloba as posições que ele tem expressado nos seus sermões e discursos desde quando se tornou o primeiro sumo pontífice não europeu dos últimos 1300 anos. Lendo esse documento, é possível entender que Francisco reconhece estar “aberto a sugestões” para reformar o papado. “Como bispo de Roma, cabe-me estar aberto às sugestões para que o exercício do meu ministério se torne mais fiel ao sentido que Jesus Cristo quis dar-lhe e às necessidades atuais da evangelização”, escreveu o Papa.

Francisco ataca o capitalismo sem limites como “uma nova tirania” e adverte que a desigualdade e a exclusão social "geram violência" no mundo e podem provocar "uma explosão". Faz prevalecer “a lei do mais forte, o mais poderoso come o mais fraco.” Esta cultura “do desperdício” criou “algo de novo: os excluídos não são explorados, são desperdícios, lixo”, critica o sumo pontífice. “É a nova tirania invisível”, de “mercado divinizado, onde reinam a “especulação financeira”, a corrupção ramificada” e a “evasão fiscal egoísta”.

O chamamento de Francisco na sua exortação apostólica é um reforço na luta contra a pobreza e a exclusão. Apela aos políticos para que garantam a todos os cidadãos “trabalho digno, educação e cuidados de saúde”, e aos ricos para que partilhem a sua fortuna, afirmando que, “tal como o mandamento ‘Não matarás’ impõe um limite claro para defender o valor da vida humana, hoje também temos de dizer ‘Tu não’ a uma economia de exclusão e desigualdade. Esta economia mata”. “Peço a Deus que aumente o número de políticos capazes de entrarem num autêntico diálogo orientado para sanar eficazmente as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo”. Os planos assistenciais, que se tornaram moda para disfarçar a miséria, “fazem frente a algumas urgências, mas devem apenas considerar-se como respostas provisórias”.

Para Francisco a renovação da Igreja não pode ser adiada, devendo caminhar para “uma saudável descentralização”, aumentando a responsabilidade dos laicos, que são “mantidos à margem das decisões” e ampliando “os espaços para uma presença feminina mais incisiva”. Os jovens deverão ser ouvidos na tomada de decisões, diz o Papa. “Muitas vezes, comportamo-nos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a igreja não é uma alfândega, é a casa paterna onde há lugar para todos.” Mas esclarece que a reforma não passará pela ordenação de mulheres como padres – “não é uma questão que esteja aberta a discussão” –, ou pela aceitação do aborto, que é uma questão fechada, fazendo parte dos valores “não negociáveis” da religião cristã (vida e família, essencialmente), defendidos pelos anteriores Papas. “Não é progressista” resolver os problemas “eliminando uma vida humana”. Reconhece, no entanto, que a Igreja Católica “tem feito pouco” para acompanhar as mulheres que se encontram numa situação que as leva a abortar, sobretudo num contexto de violação ou extrema pobreza, “onde o aborto se apresenta como uma rápida solução para as suas profundas angústias”.

Outra idéia forte de Francisco é a de que a sua Igreja não siga um caminho de ostentação e de preocupação, mas sim uma senda missionária e que vá ter com quem dela necessite: “Prefiro uma Igreja ferida e suja por andar na rua a uma Igreja interessada em ser o centro e que acabe enclausurada num emaranhado de obsessões e rituais”.

Ademais disso, Francisco reafirma que a Igreja não se deve fechar para ninguém, em palavras que podem ser tidas como relevantes para a questão dos fiéis divorciados, a quem são negados os sacramentos – ou dos cristãos homossexuais que foram batizados. “Há portas que nunca se devem fechar. Todos podem participar de algum modo na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e as portas dos sacramentos nunca devem fechar por motivo algum.”

Na mira da máfia, notadamente da N'drangheta, a organização criminosa calabresa mais perigosa da Itália, em razão da sua postura contra a corrupção — tanto dentro como fora do Vaticano —, o Papa corre perigo e deve zelar pela sua vida, pois os altos dirigentes destes grupos mafiosos estão nervosos e agitados com os passos papais.


Nesse contexto, o Papa Francisco é ou não um revolucionário? Encaixa-se ou não nessa definição? Assim como Jesus, o Cristo, o foi?








Nenhum comentário:

Postar um comentário