sábado, 1 de abril de 2017

Estórias que o povo conta “Pescador é mentiroso?”





O cearense Antônio Chagas disse que foi o Bispo que contou pra ele e pro Anésio, e que tem até a Matilde de testemunha, na estória que se segue. Marco pasteleiro, o são paulino, também confirma.
Macedo (vulgo Nenê ou Careca), do Bom Retiro, jura de pés juntos que esta estória é verdadeira.



Estava ele pescando no rio Atibaia, ali perto da ponte de Joaquim Egídio, quando foi abatido por um grande desânimo. Já estava ali, com a vara de pesca dentro d’água há tanto tempo  que a danada tinha até amolecido. Isca só tinha mais três minhoquinhas. Só não ia logo embora, porque ainda lhe restava um pouco de combustível (meio garrafão de pinga boa) que o seu Antônio Pellegrine – grande pescador de tilápias – tinha dado pra ele.
Pois num é que o Macedo, quando virou mais um gole do garrafão e deu aquela tremidinha, sentindo um arrepio danado, viu em visagem!!! De repente, surgir na beira do rio, uma cobra cascavel com uma rã na boca!!!
Animado e movido pelo estímulo da “marvada”, o Macedo pega a cobra pela goela, tira-lhe a rã da boca para usar como isca. Sem ter coragem de matar a cobra, enche a boca da peçonhenta de cachaça e pincha-a pra longe.
Mas como não era o dia do Macedo, não adiantou nada ele ter transformado a rã em isca.




Passado algum tempo, já sem isca – nem minhoca , nem rã – e sem saber o que dizer quando voltasse pro Bom Retiro, sem peixe, Macedo se surpreendeu com um som de campainha: a cascavel, feliz com o presente pro seu benfeitor, balança seu guizo, deposita ao lado do Macedo uma gorda rã e escancara a boca aguardando sua paga em boa pinga.
Nesse dia, enquanto durou a cachaça, não faltou isca pro Macedo.


(publicado originalmente em 05 de abril de 1996 -  edição n.º 3)



Edição n.º 1003

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