sexta-feira, 14 de abril de 2017

Estórias que o povo conta “A propina”






Eu estava esperando um orçamento para funilaria de meu carro na Oficina Vera Cruz, quando me chamaram lá na rua.
- Tom Santos!!! Era o Bispo, meu correspondente para “causos que o povo conta”.
Disse o Bispo que o Valtinho, frequentador assíduo do “Bar do Carlinhos”, no Bom Retiro, ali, vizinho do supermercado dos Moscardi, ia levar mais uma carga de frutas, lá pra Mongaguá, quando na Rodovia Pedro Taques, deparou com um comando policial, que deu sinal para que ele parasse o possante.
O guarda pediu documentos e notas. Tudo estava em ordem. Verificando o caminhão, e não achando nada irregular, muito discretamente, o guarda quebrou o vidro de uma das lanternas do caminhão, e disse ao Valtinho , com a maior cara de pau , que teria que levar uma multa. No caso , a multa seria de trezentos reais. Mas, se o Valtinho lhe desse cinquenta reais, ele esqueceria a infração e libertaria o veículo.


Valtinho, mais que chateado, enfiou a mão no bolso, disposto a pagar a propina, para se ver livre do policial pilantra, quando este  alertou-o:
- Seu Valter, não faça isso que o senhor me complica. Faça o seguinte: está vendo aquele garapeiro, do outro lado da pista? Vá lá e deixe o dinheiro com ele. Nosso esquema é perfeito.
Valtinho foi até o garapeiro, mas resolveu aplicar, também, o golpe do corrupto.
- Seu garapeiro, eu vendi uma caixa de iogurte para o guarda e ele pediu que eu viesse receber cinquenta reais com o senhor, já que o senhor é caixa dele.
O garapeiro, desconfiado, retrucou:
- Eu só recebo dinheiro pra ele, nunca me deu ordem para eu pagar ninguém!...
O Valtinho, muito esperto, sugeriu que o garapeiro perguntasse ao guarda.
Claro que o garapeiro não iria atravessar a pista, largar seu negócio, para confirmar a ordem do guarda. Mas, levantou a mão aberta pra sinalizar cinquenta e fez sinal de positivo com o polegar, pedindo autorização. O guarda sem entender muito bem, fez sinal de positivo em resposta. Valtinho pegou os cinquenta reais e foi embora.
O dinheiro deu pra consertar a lanterna quebrada, pagar o almoço e ainda sobrou algum pra trazer dez litros de pinga de banana.



(publicado originalmente na edição n.º 17 de 12 de julho de 1996)




Edição n.º 1005

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