sexta-feira, 27 de junho de 2014

Grandes águas, pássaros, semente

Não me procures ali, / onde os vivos visitam / os chamados mortos. / Procura-me dentro das grandes águas / ou junto aos pássaros / ou espelhada num outro alguém. Pedra / semente / sal. / Passos da vida. / Procura-me ali. Viva.”

(Hilda Hilst, poeta, dramaturga, escritora)



Uma das principais representantes do movimento feminista no Brasil, mulher determinada em tudo, desde a luta contra a cegueira, até a luta por suas ideias, a escritora e feminista Rose Marie Muraro morreu aos 83 anos, há alguns dias.
Rose Marie estudou Física, mas se dedicou profissionalmente a escrever e editar  livros.     Como autora, publicou 35 títulos, entre os quais “Sexualidade da Mulher Brasileira” e “Corpo e Classe Social no Brasil”.
Em 1975, ela fundou o Centro da Mulher Brasileira, para difusão de suas ideias feministas.
Por trabalhar na editora católica Vozes, sua atuação como editora ligada à Teologia da Libertação incomodou a igreja, especialmente depois da publicação de “Por Uma Erótica Cristã”. Em 1986, ela e Leonardo Boff foram demitidos da editora depois de 17 anos de trabalho conjunto (eles escreveram juntos  “Masculino/Feminino”, livro que estuda a relação entre os gêneros).
A publicação da autobiografia “Memórias de Uma Mulher Impossível” atesta a luta de Rose Marie Muraro pela emancipação das mulheres. Em 2005, ela foi nomeada a Patrona do Feminismo Brasileiro.


"Rose Marie Muraro mostrou em sua saga pessoal que o impossível não é um limite mas um desafio. Ela se inscreve na linhagem das grandes mulheres arquetípicas que ajudam a humanidade a preservar viva a lamparina sagrada do cuidado por tudo o que existe e vive. Nesse afã ela se tornou imorredoura", escreveu Leonardo Boff, que ressaltou no início do texto o fato de que a escritora nasceu com uma deficiência visual que a tornou praticamente cega – só aos 66 anos, ela se submeteu a uma cirurgia e recuperou a visão. Boff destacou a atuação de Rose Marie nas discussões sobre gênero e afirmou que a escritora "não se limitou à questão das relações desiguais de poder entre homens e mulheres mas denunciou relações de opressão na cultura, nas ciências, nas correntes filosóficas, nas instituições, no Estado e no sistema econômico. Enfim, deu-se conta de que no patriarcado de séculos reside a raiz principal desse sistema que desumaniza mulheres e também homens", escreveu.

Por enfrentar desafios imensos e por sua dedicação incansável, Rose Marie Muraro se tornou imorredoura: pode ser procurada dentro das grandes águas, ou junto aos pássaros, ou espelhada num outro alguém. Ela é semente: para sempre viva na nossa admiração!



           

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