sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

RECONHECIMENTO E CELEBRAÇÃO


"Sem leitura não se pode escrever. Tão-pouco sem emoção, pois a literatura não é, certamente, um jogo de palavras. É muito mais. Eu diria que a literatura existe através da linguagem, ou melhor, apesar da linguagem." Jorge Luis Borges – escritor argentino


Há algumas semanas publicamos aqui no Notícias de Valinhos, uma matéria sobre ‘Borges, o gato’. Na semana seguinte, saiu mais uma página, em agradecimento às provas de carinho de seus fãs humanos. Pois bem, nesta semana a revista Veja se rendeu e reconheceu a força dos gatos que se tornaram celebridades!
A matéria inicial falava sobre o fenômeno felino na internet em todo o mundo. Não citaram Borges. Pra quê?! Segundo a própria revista, centenas de fãs escreveram ao site para reclamar. Prontamente, o charmoso gato branco passou a figurar na lista com honras – Borges, o gato brasileiro mais famoso da internet!   
Borges é um gatinho do Rio de Janeiro, que vive com seus donos Emanoelle e Vinícius em Jacarepaguá. Ele tem quase 10.000 fãs no Facebook, é estrela de um blog com dicas felinas e personagem de vídeos no YouTube.   

Conforme o prometido em janeiro, esta é a primeira entrevista (via e-mail) concedida por Borges, o gato. Notícias de Valinhos saiu na frente e publica, na íntegra e sem distorções, suas respostas às nossas perguntas:
Como você teve a ideia de começar a escrever na internet, criar uma página no Facebook?
“Quando papai e mamãe me adotaram, eles colocavam fotos minhas na internet e na fanpage. Eu, com o tempo, fui aprendendo a ler e a escrever e comecei a pedir para usar o blog e a fanpage em que eles postavam as fotos. Fui desenvolvendo a escrita e me apropriando dos meios virtuais, o blog deixou de ser só de fotos e passou a ser um blog de filosofia e crônicas felinas ilustradas.”
Conte-nos um pouco de você - sua idade, como encontrou sua família... ou como eles o encontraram.
“Eu tenho 1 ano, nasci em 28 julho de 2011. Minha família me encontrou em uma gaiolinha do Campo de Santana, no Rio de Janeiro - RJ. Eu estava para adoção e eles chegaram alguns segundos antes de um tio esquisito que também queria me adotar!”
O que pensa sobre o sucesso dos felinos na web? E sobre a reportagem da Veja Digital?
“O sucesso dos felinos é muito importante para desmistificar o preconceito que sofremos. A internet possibilitou que nós gatos tivéssemos nossa imagem reabilitada. Mas acho grave também o fato de pessoas explorarem a imagem felina de forma indevida para autopromoção ou mesmo quando passam uma imagem simplista dos gatos: são sempre mal humorados, antipáticos ou sofredores que precisam ser salvos pelos nobres humanos.
A reportagem na Veja é o resultado do que meus fãs proporcionam: são carinhosos, são engajados, então é vantagem para a revista me divulgar, pois está conquistando a simpatia de um público muito fiel. Ao mesmo tempo, para mim é importante, pois posso chegar a novas pessoas e apresentar o que tenho chamado de Literatura Felina.”
E o seu sucesso? O que está significando? Altera algum de seus projetos iniciais?
“Meus projetos mais importantes são comer, dormir, comer, ler, escrever, dormir, comer. Sempre fiz isto, sempre farei isto. Acho que para um gato, não altera quase nada, a não ser o número de leitores. Seria bom se pudessem vir mais petiscos e sachês com a fama.” 
Qual a principal mensagem que você quer transmitir, qual o recado que você deixa para os seus fãs?
“Não gosto de passar mensagens diretas, gosto de escrever e cada um que ache seus próprios significados. Mas, é inegável que através dos textos sempre quero deixar transpirar o amor pelos livros, pelas artes, pela ironia, pelas coisas simples e desprezadas, como uma bolinha de papel ou um arame de fechar pão. Gatos são grandes companheiros dos livros. Olhe os sebos antigos e ali estão gatos que já leram todos os livros e não contam pra ninguém, não querem dar lição de moral, leem por puro prazer. Os humanos deveriam experimentar viver mais em busca destes pequenos prazeres do que para dar lições de vida. Um gato, quando entra em uma casa, costuma-se dizer que foi salvo, resgatado por um humano. Mas eu peço que olhem diferente: quantas casas um gato já salvou: da tristeza, das brigas, da saudade, dos problemas.”
Assim como faz o Antônio Abujamra, no programa "Provocações" da TV Cultura - o que você gostaria que eu tivesse perguntado que não perguntei?
“Sempre gosto de falar do meu nome: Borges. Gosto dele, pois é de um escritor argentino do qual já li todos os livros algumas vezes. Mais que me conhecer, gostaria que todos os meus fãs conhecessem esse outro Borges, que foi imenso escritor e nunca imaginou que um gatinho nascido no Brasil, como eu, teria a audácia de lhe dar uma espécie de abusada continuidade. Espero, junto com meus leitores, habitar mundos novos, de realidades novas, ideias novas, tecnologias novas, um mundo muito menos real que este e justamente por isto muito mais possível.”


E teve a palavra Borges, o gato. De Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, direto para Valinhos, em São Paulo.  E como disse Borges, o escritor, “Sou um homem de letras, nada mais... Sou um fazedor de sonhos.” Assim também é o gato Borges (e todos os outros), deixando a vida melhor, mais possível.

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