"Sem
leitura não se pode escrever. Tão-pouco sem emoção, pois a literatura não é, certamente, um jogo de palavras. É muito mais. Eu
diria que a literatura existe através da linguagem, ou melhor, apesar da
linguagem." Jorge Luis Borges – escritor argentino
Há algumas semanas publicamos aqui no Notícias de Valinhos, uma matéria
sobre ‘Borges, o gato’. Na semana seguinte, saiu mais uma página, em
agradecimento às provas de carinho de seus fãs humanos. Pois bem, nesta semana
a revista Veja se rendeu e
reconheceu a força dos gatos que se tornaram celebridades!
A matéria inicial falava sobre o fenômeno felino na
internet em todo o mundo. Não citaram Borges. Pra quê?! Segundo a própria
revista, centenas de fãs escreveram ao site para reclamar. Prontamente, o
charmoso gato branco passou a figurar na lista com honras – Borges, o gato
brasileiro mais famoso da internet!
Conforme o prometido em janeiro, esta é a primeira
entrevista (via e-mail) concedida por Borges, o gato. Notícias de Valinhos saiu na frente e publica, na íntegra e sem
distorções, suas respostas às nossas perguntas:
Como você teve a ideia de começar
a escrever na internet, criar uma página no Facebook?
“Quando
papai e mamãe me adotaram, eles colocavam fotos minhas na internet e na
fanpage. Eu, com o tempo, fui aprendendo a ler e a escrever e comecei a pedir
para usar o blog e a fanpage em que eles postavam as fotos. Fui desenvolvendo a
escrita e me apropriando dos meios virtuais, o blog deixou de ser só de fotos e
passou a ser um blog de filosofia e crônicas felinas ilustradas.”
Conte-nos um pouco de você - sua
idade, como encontrou sua família... ou como eles o encontraram.
“Eu
tenho 1 ano, nasci em 28 julho de 2011. Minha família me encontrou em uma
gaiolinha do Campo de Santana, no Rio de Janeiro - RJ. Eu estava para adoção e
eles chegaram alguns segundos antes de um tio esquisito que também queria me
adotar!”
O que pensa sobre o sucesso dos
felinos na web? E sobre a reportagem da Veja Digital?
“O
sucesso dos felinos é muito importante para desmistificar o preconceito que
sofremos. A internet possibilitou que nós gatos tivéssemos nossa imagem
reabilitada. Mas acho grave também o fato de pessoas explorarem a imagem felina
de forma indevida para autopromoção ou mesmo quando passam uma imagem simplista
dos gatos: são sempre mal humorados, antipáticos ou sofredores que precisam ser
salvos pelos nobres humanos.
A
reportagem na Veja é o resultado do que meus fãs proporcionam: são carinhosos,
são engajados, então é vantagem para a revista me divulgar, pois está
conquistando a simpatia de um público muito fiel. Ao mesmo tempo, para mim é
importante, pois posso chegar a novas pessoas e apresentar o que tenho chamado
de Literatura Felina.”
E o seu sucesso? O que está
significando? Altera algum de seus projetos iniciais?
“Meus
projetos mais importantes são comer, dormir, comer, ler, escrever, dormir,
comer. Sempre fiz isto, sempre farei isto. Acho que para um gato, não altera
quase nada, a não ser o número de leitores. Seria bom se pudessem vir mais
petiscos e sachês com a fama.”
Qual a principal mensagem que
você quer transmitir, qual o recado que você deixa para os seus fãs?
“Não
gosto de passar mensagens diretas, gosto de escrever e cada um que ache seus
próprios significados. Mas, é inegável que através dos textos sempre quero
deixar transpirar o amor pelos livros, pelas artes, pela ironia, pelas coisas
simples e desprezadas, como uma bolinha de papel ou um arame de fechar pão.
Gatos são grandes companheiros dos livros. Olhe os sebos antigos e ali estão
gatos que já leram todos os livros e não contam pra ninguém, não querem dar
lição de moral, leem por puro prazer. Os humanos deveriam experimentar viver
mais em busca destes pequenos prazeres do que para dar lições de vida. Um gato,
quando entra em uma casa, costuma-se dizer que foi salvo, resgatado por um
humano. Mas eu peço que olhem diferente: quantas casas um gato já salvou: da
tristeza, das brigas, da saudade, dos problemas.”
Assim como faz o Antônio Abujamra,
no programa "Provocações" da TV Cultura - o que você gostaria que eu
tivesse perguntado que não perguntei?
“Sempre
gosto de falar do meu nome: Borges. Gosto dele, pois é de um escritor argentino
do qual já li todos os livros algumas vezes. Mais que me conhecer, gostaria que
todos os meus fãs conhecessem esse outro Borges, que foi imenso escritor e
nunca imaginou que um gatinho nascido no Brasil, como eu, teria a audácia de
lhe dar uma espécie de abusada continuidade. Espero, junto com meus leitores,
habitar mundos novos, de realidades novas, ideias novas, tecnologias novas, um
mundo muito menos real que este e justamente por isto muito mais possível.”
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