Editorial
publicado na Edição n.º 895 de 2 de agosto de 2013
Felizmente, a tenacidade de João Rubinato (Adoniran
Barbosa) não ficou atolada no barro da olaria às margens do Ribeirão
Pinheiro, em Valinhos, onde o compositor nasceu em 7 de agosto de 1910,
sete dias antes que Thomas Edison inventasse o cinema falado.
Adoniran nos deu o exemplo de como trabalhar, com
genialidade e criatividade, dons pessoais e intransferíveis. É que ele soube
identificar a sementinha da sabedoria inata que o Criador implantou em seu
destino.
Adoniran não podia mesmo continuar vivendo em
Valinhos. Ele precisaria ir para São Paulo, onde iria conhecer os recursos dos
meios de comunicação sonoros, visuais e impressos (rádio, circo, cinema,
teatro, gravadora, televisão, jornais e revistas) para divulgar suas
composições, cantar e representar os personagens aos quais daria vida, com
visão crítica, jocosa, romântica, com sua política social e desportiva, de
verve popular.
E foi por sua vivência na cosmopolita capital que
Adoniran se tornou o maior cronista de São Paulo e sua obra mereceu, e continua
merecendo, estudos e pesquisas de mestrandos e doutorandos, além de livros
que comentam suas composições e seus personagens.
O sociólogo, escritor, crítico literário e
professor universitário (Universidade de São Paulo), Antonio Cândido, fez
questão de recomendar, já em 1975, o LP lançado pela gravadora Odeon: “Adoniran
Barbosa é um grande compositor e poeta popular... Da mistura, que é o sal de nossa
terra, Adoniran colheu a flor e produziu uma obra radicalmente brasileira, em
que se identificam as melhores cadências do samba e da canção.
A fidelidade à música e à fala do povo permitiu a
Adoniran exprimir a sua cidade (São Paulo), de modo completo e perfeito. Ele
apurou um novo modo cantante de falar português, como língua geral na
convergência dos dialetos peninsulares e do baixo contínuo vernáculo. A sua
poesia e a sua música são, ao mesmo tempo, brasileira em geral e paulistana em
particular.
Talvez João Rubunato não existia, porque quem
existe é o mágico Adoniran Barbosa, vindo para inventar no plano da arte a
permanência da sua cidade e depois fugir, com ela e conosco, para a terra da
poesia, ao apito fantasmal do trenzinho perdido da Cantareira”.
Tom Santos
Edição n.º 999 – página 06
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