E assim, com esse anúncio, do
balcão da basílica de São Pedro, o mundo soube que o sucessor de Bento XVI tinha
sido escolhido para comandar os destinos da Igreja Católica Apostólica Romana.
E surpresa maior, o novo pontífice é argentino, quando se esperava a eleição de
um italiano, o cardeal Angelo Scola, favorito das casas de apostas, ou até
mesmo de um brasileiro, o cardeal Odilo Pedro Scherer.
Contudo, esquecemos que, já no conclave de
2005, que elegeu Bento XVI, Jorge Mario Bergoglio, foi o segundo mais votado
entre os cardeais, atrás apenas de Joseph Ratzinger. E numa articulação do
cardeal Óscar Maradiaga, de Honduras, o conclave rendeu-se à figura do
arcebispo de Buenos Aires.
E agora o trono de Pedro foi ocupado por Francisco
— e não Francisco I — como teimam alguns, visto que não temos um sucessor com
nome idêntico, como, aliás, o próprio papa faz questão de se autodenominar. Ele
é Francisco — apenas Francisco —, numa clara alusão a São Francisco — “il
poverello” (o pobrezinho) —, como os italianos chamam, carinhosamente, o santo
de Assis. É o primeiro chefe da Igreja a adotar o nome Francisco.
Contrariamente ao que se pensava, o papa não
pertence à ordem franciscana, mas sim à ordem dos jesuítas. É egresso da Companhia
de Jesus, corporação poderosa, cujo superior é conhecido como “Papa Negro”, em
referência à cor da batina.
Pela sua biografia e pela maneira como está se
conduzindo à frente do papado, ganhou a simpatia do povo. “Como é doce, como é
simples”, dizem. E como a voz do povo é também a voz de Deus, pegou...
Francisco, o simples!
Mas o novo papa terá que
enfrentar muitos desafios, para os quais o atual bispo emérito de Roma, seu
antecessor Bento XVI, não teve forças. Afinal, não deve ser fácil lidar com a
cúria romana e a burocracia pois, além de ser chefe da Igreja, é também chefe
de Estado, visto que administra a Santa
Sé, também chamada de Sé Apostólica que, do ponto de vista legal, é distinta do
Vaticano.
Mas engana-se quem vê no atual
papa diferenças do anterior. São diferentes sim na maneira de se conduzirem,
pois Bento XVI, brilhante teólogo, é uma pessoa tímida, mais contida e
intelectualizada, enquanto que o papa Francisco é extrovertido, simples, humilde,
acostumado com o cheiro do povo. Mas convergem num ponto essencial: ambos
defendem, com vigor, os dogmas da fé e da doutrina católicas.
O fato é que o novo pastor da
Igreja me conquistou ao expor sua posição quando afirmou, sobre o ateísmo:
“quando eu me encontro com pessoas ateias, compartilho com elas as questões
humanas, mas não coloco logo de cara em discussão a questão de Deus, exceto se
elas me incitam a isso. Quando isso ocorre eu explico a elas por que creio.
(...) Não pretendo fazer proselitismo — eu as respeito e me mostro como sou.
(...) Não tenho nenhum tipo de reticências. Não diria que um ateu está
condenado porque estou convencido de que não tenho o direito de julgar sua
honestidade — sobretudo se ele tiver virtudes, aquelas que engrandecem as
pessoas. De toda forma, conheço mais gente agnóstica do que ateia. O agnóstico
duvida; o ateu está convencido. Temos de ser coerentes com a mensagem que
recebemos da Bíblia: todo homem é a
imagem de Deus, seja ele crente ou não. Por essa única razão, tem uma série de
virtudes, qualidades, grandezas. Caso tenha baixezas, como eu também as tenho,
podemos compartilhá-las para nos ajudarmos mutuamente a superá-las.” Maior
clareza impossível!...
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