sexta-feira, 24 de março de 2017

A necessária construção da paz

  




É preciso que pensemos sobre a necessidade da paz. E ainda que a paz envolva o conceito de pacifismo é preciso que compreendamos que temos que lutar para que haja paz no planeta, no mundo, na nossa vida, no ambiente em que vivemos e nos relacionamos. É preciso entender que a ideia de paz não é fruto do equilíbrio da força, mas do diálogo, da crença na diversidade, no pluralismo e na tolerância ao diferente. Com efeito, é preciso que entendamos que existem várias formas de pensar em relação a uma mesma ideia e respeitemos isso.
A construção da paz começa a partir de uma atitude pessoal que pode se refletir depois em diversos campos da vida, no meio ambiente, na sociedade, na saúde coletiva entre outros. Essa discussão se fortalece a partir da crescente visão da interdependência global e da responsabilidade universal pela construção de um novo mundo e coloca este tema como uma das principais ações educativas que promovem fontes efetivas de paz no mundo.
A juventude tem sido, hoje, o maior alvo dos problemas sociais, políticos e ambientais que vem se acumulando desde o desenvolvimento do capitalismo. O surgimento da violência, do crime e dos comportamentos destrutivos — situações nas quais os jovens são vítimas potenciais — mostra a grande tarefa que a juventude tem: a de transformar estes padrões que tem promovido tanta guerra no mundo. É preciso que todos se eduquem para cultivar a cultura da paz.
Parece útil lembrar que a “Cultura de Paz”, enquanto movimento, iniciou-se oficialmente pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 1999 e empenha-se em prevenir situações que possam ameaçar a paz e a segurança — como o desrespeito aos direitos humanos, discriminação e intolerância, exclusão social, pobreza extrema e degradação ambiental — utilizando como principais ferramentas a conscientização, a educação e a prevenção. De acordo com a UNESCO, a Cultura de Paz “está intrinsecamente relacionada à prevenção e à resolução não-violenta de conflitos” e fundamenta-se nos princípios de tolerância, solidariedade, respeito à vida, aos direitos individuais e ao pluralismo.
Os processos e padrões da segurança pública, da guerra e da paz estão no processo de mudança. Nos 10 últimos anos tem crescido o número de grupos terroristas organizados e isto tem sido uma das varáveis para outro tipo de guerra onde eles estão instalados. Hoje há mais de 14 guerras e conflitos armados em andamento.
A proposta da cultura de paz busca alternativas e soluções para estas questões que afligem a humanidade como um todo e, segundo David Adams, a cultura de paz se sustenta em oito pilares: educação para uma cultura de paz; tolerância e solidariedade; participação democrática; fluxo de informações; desarmamento; direitos humanos; desenvolvimento sustentável; igualdade de gêneros.
Em entrevista ao “El Pais”, o Papa Francisco reafirmou o seu compromisso com a cultura da vida e da paz, advertindo quanto ao perigo de se buscar um salvador em tempos de crise, “que nos devolva a identidade e nos defenda com muros”, fazendo talvez alusão ao que havia dito sobre Donald Trump, ainda por ocasião da sua campanha à presidência dos Estados Unidos. Parece que a humanidade está buscando um novo Messias!...
O papa insistiu em dizer que não é construindo muros que se garantem a segurança e a paz. Talvez seja esse um grande desafio do século 21: o da conscientização da sociedade no sentido de perceber que a cultura da vida e da paz se constrói com o diálogo, o respeito à diversidade, às diferenças, na escuta do outro, na humildade e, sobretudo, na solidariedade.
Também em nível global espera-se que os governantes cultivem a cultura da paz, para evitar o acirramento de conflitos, com as consequências já conhecidas, que fazem muitas vezes vítimas inocentes. Para isso é preciso uma educação para a paz, que deve ser incentivada nas escolas, pois só assim conseguiremos uma mentalidade mais aberta à conversa do que à agressão, em que as pessoas saibam se posicionar sem sectarismos, sem extremismos, mas com a capacidade de escutar, de enxergar o positivo no outro, valorizando o que há de melhor em cada ser humano. A paz, nesse sentido, é fruto da esperança, e também da justiça, e dos bons sentimentos daqueles que procuram viver respeitando uns aos outros.
A cultura da paz, portanto, deve começar a partir daqueles que convivem conosco, porque o primeiro desafio é com quem está próximo de nós, mais perto. É preciso que saibamos cultivar a mansidão, a moderação, a temperança, as virtudes que conduzem primeiramente à cultura da paz interior, para que possamos expressar atitudes de paz exterior. Por essas razões também são importantes a oração, a meditação, o silêncio para a reflexão, o que nos leva à tranquilidade necessária para que saibamos tomar decisões ponderadas, sem o calor das emoções, sem motivações e impulsos intempestivos.  Adequada interiorização espiritual também conduz ao cultivo da cultura da paz.
Fica a lição: para construir uma sociedade mais humana é fundamental que cada um comece por si mesmo e faça sua parte por meio de uma mudança de atitudes, valores e comportamentos que visem à construção de um mundo mais justo e melhor de se viver e para se viver.








Edição n.º 1002

Página 08

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