sexta-feira, 24 de março de 2017

Estórias que o povo conta “Valei-me meu São Benedito”





Numa coisa Dr. Vilela está certíssimo... Ligeiramente impossível existir NOTÍCIAS sem o Tom.. Então essa coluna irá trazer a cada semana uma matéria selecionada por ele pra fazer parte, em algum momento, dos 19 anos deste tablóide... NOTÍCIAS de longa data...




O Zé contou pro Bispo que me contou, que há muitos  anos atrás, no ínicio do Bairro Vera Cruz, havia uma grande devoção a São Benedito. Naquele tempo não havia calçamento nas poucas ruas e paixar o pó, jogavam água no chão, no dia da procissão que homenageava o santo padroeiro: São Benedito.
As casas se enfeitavam com bandeirolas coloridas. Todos se vestiam com aquela “roupa de ver Deus”.
O alvoroço da criançada começava logo de manhã e todas as famílias aguardavam a tão esperada procissão, com a imagem de tamanho natural centenária, em barro preto. Aliás, ninguém sabia direito a procedência de tão venerada imagem.
Num determinado ano, o sacristão preparava tudo pra procissão, e num excesso de zelo, ao enfeitar o andor, derrubou a imagem, que se quebrou m mil pedaços. Sobrou apenas terra queimada no piso da sacristia. O coitado do sacristão pensou , temendo nas bases: sem imagem a procissão não sai, e se eu contar pro padre ele acaba comigo. E se o povo souber, me lincha.
No momento de desespero, o sacristão teve uma ideia. Correu à casa do vizinho e convenceu o filho do seu compadre, uma criança muito esperta e muito  parecida com a estátua quebrada, a substituir a imagem no andor.
O guri, com manto de santo foi colocado sobre o andor, e devidamente instruído para não se mexer, não piscar, não rir  e nem chorar e aguentar firme até o fim da procissão, que daria volta em alguns quarteirões.
A procissão começou, o padre puxou a reza, os fiéis cantaram: “São Benedito, a sua casa cheira, cheira, cheira cravo, cheira rosa, cheira a flor de laranjeira.”
Tudo ia às mil maravilhas, o guri aguentando firme, o povo cheio de fé. Mas quando o cortejo passou por uma rua arborizada com árvores frondosas, a cabeça do moleque bateu em uma enorme casa de marimbondos. Com as picadas dos “milhares de marimbondos cavalo”, o garoto gritou, “Valei-me, meu São Benedito” e para o sacerdote: “assim não dá!!!”
Para espanto de todos, “sacristão e São Benedito” saíram correndo, e desapareceram para sempre. Pois é, mentira tem perna curta. Acabou-se a estória, e quem quiser que conte outra...




(publicado originalmente na edição n.º 1 de 22 de março de 1996)



Edição n.º 1002


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