“Autora de uma obra de estilo elegante, ecos machadianos e um permanente
estado de espírito que permite manipular a escrita com firmeza e serenidade,
Lygia sempre oferece ao leitor a oportunidade de pensar sobre suas existências.”
(Ubiratan Brasil, em O Estado de S.Paulo,
13/4)
Hoje, a escritora Lygia
Fagundes Telles completa
90 anos cheia de energia, madura beleza
e serena felicidade, como mostra a foto de Eduardo Nicolau (Estadão,
13/4/2013).
Praticamente uma
unanimidade, entre os críticos, para ela a literatura sempre foi um caminho
para mudar o mundo, seja pelos detalhes do cotidiano, ou pelo devaneio criativo. Seus temas são universais: o amor,
a paixão, a loucura, o medo, a morte.
Autora
de inúmeros romances e contos (“Ciranda de Pedra”, “Verão no Aquário”, “As
meninas”, “Antes do Baile Verde”, “Seminário dos Ratos”, entre outros), Lygia
afirma que “A Disciplina do Amor” é seu
melhor livro. Nele, os
contos se constituem de reflexões minúsculas ou anotações cotidianas a respeito
de um tipo de disciplina − a do amor − sobre a qual não se tem controle. A escritora reinventa discursos
apaixonados (e apaixonantes) de sua memória de vida e os traduz para a
realidade ficcional. Os textos são fragmentos
dispersos, partes de diários, escritos de viagens, fantasias e reminiscências,
como neste belo trecho:
Por
que não lhe disse antes?
Apertá-lo demoradamente contra o meu peito e dizer:
não disse porque pensava que tinha pela frente a eternidade. Só me resta agora
esperar que aconteça outra vez, vislumbro esse encontro, mas vou reconhecê-lo?
E vou me reconhecer nos farrapos da memória do meu eu?
Peço que me faça um
sinal e responderei ao código secreto na mente e no silêncio dos navios que se
comunicam quando cruzam no mar.
Em todas as entrevistas que concede, Lygia Fagundes
Telles sempre relembra seu encontro com Monteiro Lobato (preso de março a abril
de 1941, sob a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas), fato que a marcou
profundamente:
Seus
personagens não eram culpados pela sua prisão, mas sim as cartas que andou
escrevendo, ou melhor, as denúncias que andou fazendo através dessas cartas.
Porque livros os governantes não liam mesmo. Deviam ler, mas não liam e daí a
ideia das cartas curtas e diretas, "para avisar que o petróleo é
nosso", ele me disse. Quando contei que estava na Faculdade de Direito do
Largo de São Francisco, ele abriu os braços num gesto radiante: "Pois foi
lá que eu me formei! Só que na nossa turma não tinha meninas, só marmanjos.
Quer dizer que a mocinha vai advogar?" Comecei gaguejando, bem, era
difícil explicar, eu era uma estudante pobre, queria me formar para ter um
diploma e assim arranjar um bom emprego. Na realidade queria ser escritora,
escrever contos, romances...
Do mesmo modo, sua amizade com Hilda Hilst e Clarice
Lispector também são sempre relembradas.
Os versos de Hilda:
De
espaço-tempo/ de corpo e campo/ teu
fundamento. // E teu nome é matéria./ Única./ De estrutura/ infinitamente
múltipla.
e o miniconto de Clarice:
Começou
a cantar, interrompeu-se e disse: “estou cantando em minha homenagem. Mas,
mamãe, eu não aproveitei bem os meus dez anos de vida”. Aproveitou muito bem,
respondeu a mãe. “Não, não quero dizer aproveitar fazendo isso e fazendo
aquilo. Quero dizer que eu não fui contente o suficiente.”
são o tributo de NOTÍCIAS a essa talentosa Lygia pelos
seus 90 anos cheios de issos, aquilos e contentamentos suficientes, apesar de
todos os pesares da vida.
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