O prefeito Moysés acabara
de inaugurar a obra de reforma da Estação Ferroviária. A banda já tinha ido
embora. O pessoal do coral já devia até estar almoçando. Dodó já tinha gasto a última chapa de sua potente “xereta”. Enfim,
era aquele típico momento de “fim de inauguração”, sem as bolachinhas com patê
do seu Oscar.
No rescaldo das emoções observei
um grupo de pessoas, alí na plataforma, conversando e rindo com tanto
entusiasmo, que o eco das risadas fazia estremecer as telhas de zinco da
cobertura nova da velha estrutura de
ferro.
Pensei que a turma estava
comentando os últimos lances da “ressaca eleitoral”. Curioso, me aproximei para
ouvir a “saideira” do grupo, formado por Adelino, Dr. Jorge (o que veio de
Guarujá-mirim), Sebastião (da Banca de Jornais) e Cascudo que encostara seu
“incrível possante” caminhão e tinha a companhia de seu “fiel” amigo, o cão
Rex.
Sebastião foi quem
adiantou: “Olha pessoal, vou contar a última.
Vocês estão vendo este
filete de água suja, que passa atrás da minha banca e que a gente chama de
Ribeirão Pinheiros? Este filete d’água já foi um rio caudaloso, com muito peixe
grande! Aqui se pescava dourado de até três arrobas!”
O Sebastião falava com
tanta animação que o grupo nem piscava. A atenção era geral, aguardando a
continuação do “causo” . e prosseguiu o Sebastião: “Foi num domingo, e minha
esposa tinha pedido que eu levasse uma boa porção de peixes, para recepcionar
uns parentes que tinham vindo de Bastos, para conhecer Valinhos.
Claro que pouco antes de
fechar a banca, preparei a vara com um bom anzol, pretendendo pescar um
“excelente dourado”, para garantir a mistura das visitas.
Vocês não imaginam o que
aconteceu na pescaria. Assim que joguei o anzol n’água, a fisgada foi de
tremer. Acho que o peixe não comia há umas três semanas. A linha esticou, a
vara envergou e eu só não fui arrastado, porque me agarrei com as pernas na
pinguela. Gente, quando consegui trazer o peixe para fora d’água, vi que
pescara um dourado que iria dar para o bairro inteiro do Limoeiro comer,
durante um mês, se ajudado por toda a cidade de Bastos. Quando cheguei em casa,
chamaram o Haroldo pra vir documentar o pescado. O Bepe ainda vai escrever um
livro sobre este peixe, pescado no Ribierão Pinheiros, quando ele era limpo!
Mas o melhor ainda estava
pra acontecer. Quando o peixe foi aberto, percebi que tinha um pacote plástico
na barigada do bitelo. Abri o embrulho, e para espanto de todos, tcham...
tcham... tcham... tcham!!!!... lá
encontrei uns cinco quilos de joias.
Minha esposa advertiu:
“Sebastião, não ponha a mão nisso... vou chamar a polícia”. A polícia chegou e
o mistério foi esclarecido: Há um mês, uma quadrilha tinha realizado um grande
assalto, em Jundiaí, e fugindo da polícia, tinham se refugiado na Rocinha, em
Vinhedo, onde está a cabeceira do Ribeirão Pinheiros. No tiroteio com a polícia,
todo o bando foi exterminado, mas o produto do roubo nunca tinha sido
encontrado.
Resumindo, a recompensa foi
tanta, que deu até pra comprar uma fazendinha lá em Bastos, onde tenho cinco
mil cabeças de boi de engorda. Sou o “Rei do Gado” de Bastos. Não é por me
gabar, mas acho que esta novela que tá aí fazendo tanto sucesso, parte foi
inspirada nesta minha pescaria!”
(publicado originalmente na edição n.º 31 de
18 de outubro de 1996)
Edição
n.º 1007
Página
02
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