sexta-feira, 28 de abril de 2017

Estórias que o povo conta “Dourado recheado”





O prefeito Moysés acabara de inaugurar a obra de reforma da Estação Ferroviária. A banda já tinha ido embora. O pessoal do coral já devia até estar almoçando. Dodó  já tinha gasto a  última chapa de sua potente “xereta”. Enfim, era aquele típico momento de “fim de inauguração”, sem as bolachinhas com patê do seu Oscar.
No rescaldo das emoções observei um grupo de pessoas, alí na plataforma, conversando e rindo com tanto entusiasmo, que o eco das risadas fazia estremecer as telhas de zinco da cobertura nova  da velha estrutura de ferro.
Pensei que a turma estava comentando os últimos lances da “ressaca eleitoral”. Curioso, me aproximei para ouvir a “saideira” do grupo, formado por Adelino, Dr. Jorge (o que veio de Guarujá-mirim), Sebastião (da Banca de Jornais) e Cascudo que encostara seu “incrível possante” caminhão e tinha a companhia de seu “fiel” amigo, o cão Rex.
Sebastião foi quem adiantou: “Olha pessoal, vou contar a última.
Vocês estão vendo este filete de água suja, que passa atrás da minha banca e que a gente chama de Ribeirão Pinheiros? Este filete d’água já foi um rio caudaloso, com muito peixe grande! Aqui se pescava dourado de até três arrobas!”
O Sebastião falava com tanta animação que o grupo nem piscava. A atenção era geral, aguardando a continuação do “causo” . e prosseguiu o Sebastião: “Foi num domingo, e minha esposa tinha pedido que eu levasse uma boa porção de peixes, para recepcionar uns parentes que tinham vindo de Bastos, para conhecer Valinhos.
Claro que pouco antes de fechar a banca, preparei a vara com um bom anzol, pretendendo pescar um “excelente dourado”, para garantir a mistura das visitas.




Vocês não imaginam o que aconteceu na pescaria. Assim que joguei o anzol n’água, a fisgada foi de tremer. Acho que o peixe não comia há umas três semanas. A linha esticou, a vara envergou e eu só não fui arrastado, porque me agarrei com as pernas na pinguela. Gente, quando consegui trazer o peixe para fora d’água, vi que pescara um dourado que iria dar para o bairro inteiro do Limoeiro comer, durante um mês, se ajudado por toda a cidade de Bastos. Quando cheguei em casa, chamaram o Haroldo pra vir documentar o pescado. O Bepe ainda vai escrever um livro sobre este peixe, pescado no Ribierão Pinheiros, quando ele era limpo!
Mas o melhor ainda estava pra acontecer. Quando o peixe foi aberto, percebi que tinha um pacote plástico na barigada do bitelo. Abri o embrulho, e para espanto de todos, tcham... tcham...  tcham... tcham!!!!... lá encontrei uns cinco quilos de joias.
Minha esposa advertiu: “Sebastião, não ponha a mão nisso... vou chamar a polícia”. A polícia chegou e o mistério foi esclarecido: Há um mês, uma quadrilha tinha realizado um grande assalto, em Jundiaí, e fugindo da polícia, tinham se refugiado na Rocinha, em Vinhedo, onde está a cabeceira do Ribeirão Pinheiros. No tiroteio com a polícia, todo o bando foi exterminado, mas o produto do roubo nunca tinha sido encontrado.
Resumindo, a recompensa foi tanta, que deu até pra comprar uma fazendinha lá em Bastos, onde tenho cinco mil cabeças de boi de engorda. Sou o “Rei do Gado” de Bastos. Não é por me gabar, mas acho que esta novela que tá aí fazendo tanto sucesso, parte foi inspirada nesta minha pescaria!”


(publicado originalmente na edição n.º 31 de 18 de outubro de 1996)








Edição n.º 1007

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