sexta-feira, 2 de junho de 2017

Estória que o povo conta... "Aconteceu em Fortaleza"!




O seu Oscar e o cearense Chagas estavam numa conversa animadíssima, enquanto arrumavam juntos, os pratos , talheres, copos e tudo o mais que é necessário para um jantar de gala, sobre a mesa coberta com toalha de renda do norte e enfeitada com flores do campo.


Todos esses “quiprocós” fizeram seu Oscar recordar os bons tempos, quando ajudava nos preparativos e depois na recepção de convidados pra lá de ilustres e famosos. Ele ia contando pro Chagas, que ouvia , pasmo com os conhecimentos e experiências do seu Oscar:
- Lembro de uma vez que servi o governador Laudo Natel quando ele veio inaugurar o viaduto que o prefeito Arildo construiu!
- E como era ele? Gente fina ou todo cheio de “não me toques”? o Chagas queria saber.
- Gente finíssima foi o vice-presidente Café Filho, continuou o seu Oscar, sem responder a pergunta do Chagas, todo imerso nas lembranças. E o presidente Jânio Quadros então! Até me deu um tapinha nas costas e agradeceu quando eu lhe servi um uísque!
O Chagas quis mostrar que, se não conhecia os famosos do sul, conhecia pelo menos um , de saudosa lembrança, lá do Ceará. E quando seu Oscar parou pra respirar, antes de desfilar mais um nome memorável, o Chagas foi logo adiantando:
- Pois eu fui convidado pra um almoço de Dia do Trabalho, lá no Palácio do Governador, em Fortaleza, nos tempos do Cesar Cals. Êita festa supimpa, seu!
- Convidado? Estranhou seu Oscar.
- E não só eu, como todos  os trabalhadores  que naquela época, estavam fazendo algum serviço no Palácio do Governador. Era tanta gente, e tinha tanta coisa boa de se comer,  que me dá água na boca só de lembrar dos quitutes todos! O Chagas se gabou, olhos brilhando.
- Vai me dizer que tinha peixe... gozou o seu Oscar.
- Tinha bem uns par deles: Matrinchã ao molho, pirão de cabeça de peixe, traíra frita, assada e cozida, piau, paçoca de carne seca, galinha a cabidela, chá de burro, cuscuz com  leite, buchada, panelada...
- E isso é comida de gente? Interrompeu o outro, meio ressabiado por não conhecer a maioria desses pratos.
- Das mais melhores! O Chagas estava entusiasmado, com a boca cheia d’água com a lembrança das iguarias. E os refrescos? De murici, de graviola, de buriti... Tinha bolo de milho, rapadura, cocada, doce de caju.
Tinha tantas coisas diferentes e tão gostosas, que a gente nem sabia por qual comida começar a se lambusar!
- E foi todo mundo dos trabalhadores? Perguntou o seu Oscar, já curioso  sobre a festança do César Cals.
- E o senhor acha que ia faltar alguém, numa boca livre dessas? Tinha gente que nem conhecia tudo que estava em cima da mesa, por nunca ter visto, ouvido falar ou comido. Um cabra lá, que trabalhava com os marceneiros,  chegou pra mim e disse, com a boca cheia:
- Meu, isso tá bom demais! Até um tal de guardanapo, de que eu nem gostei muito, eu comi bem uns três!




Publicado originalmente na
Edição n.º 37 de 29 de novembro de 1996








Edição n.º 1012
Página 02



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