O seu Antônio mecânico me
contou, que no início do Bairro da reforma Agrária, as estradas eram piores do
que hoje. Elas melhoraram só por volta de 1975, mas antes, eram ruins e pouca
gente se aventurava a transitar por lá.
Seu Antônio possuía um
velho caminhão 1951, com o qual, praticamente, quebrava os galhos dos seus
vizinhos: levava um doente ao médico, trazia compras do armazém para o pessoal,
e tudo mais.
Certo dia, seu Antônio foi
procurado por uma família, para ir à cidade buscar um caixão funerário, já que
um membro da família havia falecido, e naquela época, os velórios eram feitos
na própria casa do morto. Seu Antônio foi à cidade e levou junto, para jantar,
o Joaquim, muito prestativo, mas muito chegado a “água que passarinho não bebe”,
que já no primeiro buteco, bebeu pra esquecer os infortúnios da vida.
Voltando para a Reforma
Agrária, caixão na carroceria e Joaquim segurando para que nada de errado
sucedesse, lá vai o Ford 51. Mal começaram a rodar, veio um pé d’água danado.
Joaquim, para se proteger do aguaceiro, entrou no caixão.
Com o embalo do caminhão, o
escurinho do caixão e o efeito da cachaça, Joaquim dormiu um sono profundo.
Antes de cruzarem a
Anhanguera, uma família conhecida de seu Antônio, pediu carona. A mulher e os
filhos foram na cabine e o esposo foi para a carroceria.
Como as poças d’água
encobriam os buracos, seu Antônio desviava de uma valeta e caia em outra. Era tanto
solavanco, que em um deles Joaquim acordou e abriu a tampa do caixão. Quando o
carona viu a tampa do caixão se abrir e o defunto se levantar, se apavorou e
saltou do caminhão em movimento.
Coitado de seu Antônio, que
teve de voltar à cidade para engessar o carona, e dar muita água com açúcar
para toda família.
Publicado originalmente na edição n.º 12 de
07 de junho de 1996
Edição n.º 1013
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