Conviver com o próximo e suas particularidades é um desafio para o ser
humano desde sua origem. Sabemos que compreender o outro não é algo automático
e, de fato, nós temos que aprender desde muito jovens a acolher a
personalidade, as atitudes, a forma e a individualidade de cada ser.
Isso deveria ser um processo natural de amadurecimento, de forma que a
convivência coletiva e pacífica existiria, sobretudo, em prol da
individualidade de cada um, da particularidade de sua personalidade e do seu
papel no mundo. Mas nem sempre isso ocorre de modo correspondente.
No intervalo da ação de aceitar o outro ou conviver de forma amigável,
surgem as diferenças e os comportamentos hostis. O mais comentado deles é o
bullying, que nos últimos meses voltou a ocupar lugar de destaque em nossas
discussões diárias, levando-nos a refletir sobre esse ato e os caminhos para
minimizá-lo.
Definido como um comportamento violento, o termo tem origem na língua
inglesa e é caracterizado por um indivíduo “brigão”, que frequenta um
determinado círculo social e que pratica atitudes repetitivas de agressão,
intimidação e humilhação sem motivo evidente, afetando diretamente o próximo,
que sucumbe à sua maneira natural de ser, tornando-se retraído, apático e
entristecido.
Obviamente, por vivermos em comunidade, haverá momentos em que as
opiniões não serão coletivas e breves desentendimentos acontecerão. Esses
episódios, contudo, não são caracterizados como bullying, visto que há não
intenção de ferir ou magoar o próximo e as ações não ocorrem de forma
repetitiva.
O que desejo enfatizar com minha mensagem é que todas as pessoas têm um
papel representativo no combate ao bullying. Em especial, nós,
educadores, devemos ser embaixadores da prevenção a esse tipo de comportamento,
estimulando a união e a individualidade de cada um nos ambientes escolares.
Na escola, é fundamental promovermos assembleias e conversas que nos
levem sempre a um caminho de solução. Para isso, vale estimular ações em
parceria com os estudantes, como discutir democraticamente um estatuto
antibullying de forma que todos estejam cientes dos danos emocionais gerados ao
próximo e das possíveis consequências legais, uma vez que a prática do bullying é
uma infração prevista pela Lei nº 13.185.
Além disso, as dinâmicas, oficinas, palestras e atividades extras são
essenciais para que as crianças e os jovens conversem sobre suas emoções e para
que também compreendam as reações do outro. Portanto, que tal uma peça de
teatro retratando como a vítima se sente ao receber atitudes de intimidação?
Dessa forma, é possível criar um caminho lúdico para uma discussão.
Vale ressaltar que se engana quem acredita que o trajeto da precaução
deve estar apenas na escola. A função preventiva deve estar na família, no
Estado e nos grupos de amizade. Os pais devem se empenhar em observar e
participar do dia a dia dos filhos, demonstrando não só uma preocupação
natural, mas trabalhando as emoções da criança, questionando como ela se sente
frente a algo que lhe incomoda, por exemplo.
Os pais e responsáveis também devem promover conversas sobre o bullying utilizando
o tempo juntos como uma forma de prevenção do assunto. Usar literatura de
qualidade é uma alternativa interessante para iniciar esse processo.
Os livros provocam uma viagem de emoções e um transporte ao lugar do
outro. Em um dos meus livros sobre o tema, intitulado “Bullying não é amor”,
retrato uma vítima de bullying que está coberta de
”plaquinhas” taxativas, que definem de forma agressiva suas características.
Que tal propor em conjunto a queda dessas plaquinhas e a aceitação de quem
realmente somos? O apoio do círculo social é imprescindível para que esse
processo ocorra de forma permanente. Nós somos maravilhosos exatamente da forma
como fomos concebidos – e respeitar a individualidade de cada um é uma trilha
fundamental para um mundo melhor.
Silmara Rascalha
Casadei, diretora-geral pedagógica do Colégio Visconde de Porto Seguro. Autora
de 34 livros destinados ao público infanto-juvenil, que versam sobre a
solidariedade socioambiental e a cidadania, Silmara é educadora há mais de 25
anos e atua desenvolvendo múltiplos talentos de crianças e jovens, acreditando
na potencialidade do ser humano.
Edição n.º 1015
Página 08
Nenhum comentário:
Postar um comentário