“Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de
dez meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o
tempo, essa divisão se inverta: dez
meses de Natal e dois meses de ano vulgarmente dito. Então nos amaremos
e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a
outra, de continente a continente. Governo e oposição, neutros, super e
subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de
fraternidade. A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes
do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo
e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias,
aberta à maneira de um livro. E será Natal para sempre.” (Carlos
Drummond de Andrade ‒ Texto extraído do livro "Cadeira de Balanço", Livraria José
Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 52)
Que as tintas do sol tropical na Baía da Guanabara e as
cores mutantes da aurora boreal nos confins norte da terra, abertas à maneira
de um livro celestial, comemorem um Natal que se prolongue para sempre...
São os votos de NOTÍCIAS:
a fraternidade pregada por Jesus, de manhã à noite, de uma rua a outra,
de um quarteirão a outro, de uma cidade a outra; e perfume de moita antes do
amanhecer, o maior tempo possível.
Edição n.º 966 - página 01
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