Ela veio de longe. Lá de
uma Valinhos dos idos de 1920, tempo em que o Ribeirão Pinheiro tinha peixe
para se pescar...
Ela ia ser batizada de
Clotilde, mas quando o pai chegou no cartório, não se lembrou do nome escolhido
em conjunto com a mãe. Então decidiu: pode ser Maria. Para não ser confundida
com a prima de mesmo nome, passou a der carinhosamente chamada de Mariquinha!
E a filha de Felipe
Spadaccia e Dona Faustina foi para o “pódio”, por ser a primeira filha mulher
do casal de imigrantes italianos (Felipe e Faustina vieram da Itália com 14 e 2
anos, respectivamente, se conheceram, se casaram e tiveram filhos aqui).
A casa dos Spadaccia era
ali em frente, onde hoje é um supermercado, beirando uma estreita rua que ia lá
para os lados da Fazenda Capuava.
A esperta Mariquinha
contou-me com alegria: “Eu andava a cavalo, aprendi a nadar no Ribeirão
Pinheiro. Subia e descia o rio com um barquinho, levando bastante gente para
passear”.
Um dia, enquanto a mãe
lavava roupa na beira do Ribeirão, a garota Mariquinha decidiu que iria
aprender a nadar. Segurando-se na prancha de esfregar roupa, ela batia os pés
na água. Logo aprendeu a soltar as mãos e lá se foi, descendo ribeirão abaixo,
até a lagoa do lenheiro. Depois subia até onde, hoje é a Prefeitura. Em todo o
trajeto, havia muitos chorões plantados nas margens, e ela achava e sentia que
“era como se estivesse atravessando um túnel verde-sonho!”
E dona Mariquinha continuou
mergulhada nas lembranças de mais de oitenta anos passados.
“Era tão bom quando minha mãe torrava café na
panela de ferro, naquele fogão a lenha! Ficava aquele cheirinho gostoso de se
cheirar! Minha mãe fazia um macarrão talharim delicioso! E também uma bola de
massa, que depois de seca, ela ralava pra pôr na sopa... “
A garota Mariquinha fez os
seus estudos no primeiro Grupo Escolar de Valinhos, construído ali onde hoje é
a loja Marisa. O diretor era o professor Américo Beluomini, e que também não se
esqueceu das professoras Alice Sueli Nonato, Cecília e Sofia.
Depois, fui matriculada na
escola de desenho do professor Tomaz Perina, em Campinas, onde aprendi a
desenhar usando guache, lápis, nanquim e óleo sobre tela. Sempre me encantei
com a natureza, o pôr do sol, os pássaros, as árvores... que até hoje gosto de
pintar. Um dia vi um flamboiã florido e
cheio de pardais em algazarra. Pintei um quadro lindo!”
A moça Mariquinha era
afoita e gostava de participar de novidades. Quando foi criado o primeiro coral
com moças, nem precisava dizer que entre as 20 moçoilas inscritas, uma era a
Mariquinha! Ela lembrou que a Neida Borim foi a primeira ensaiadora. Depois,
veio a Mirian de Salvi.
(1)
Mariquinha com a irmã (2) Amelinha no colo (3) Angelim (irmão) (4) Luiz (amigo)
(5) Olivinho Bozza (amigo) (6) Higino (irmão) (7) Dária Boza (amiga)
Outras lembranças
Enquanto preparava um
cafezinho, Dona Mariquinha foi falando. “Onde hoje é o mirante do lenheiro já teve uma plantação de trigo. Tenho
saudades do tempo em que me juntava à Alzira Antoniazzi Bissoto, e enfeitávamos
o andor de Jesus Ressuscitado para a procissão, que saía às 5h da Igreja de São
Sebastião. Uma vez enfeitamos o andor com raio de sol, feito com cacos de
espelhos. Aí, o clarão do sol nascendo batia nos espelhinhos, e ficava lindo!
Eu gostava também de enfeitar as janelas das casas, para a procissão de Corpus
Christi: Me lembro também que junto com a Nair Cancon, enfeitávamos com festão
de cipreste e muita flor de papel crepom as barracas das primeiras Festas do
Figo.
Foi delicioso ficar duas
horas de um fim de tarde ouvindo a Dona Mariquinha e suas descrições de como
era a pequena cidade de Valinhos; ela a falar com tanta clareza que parece que
todas as suas peripércias tinham acabado de acontecer.
Edição n.º 965 - página 02
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