sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Relembrando o que não se pode esquecer!





Ela veio de longe. Lá de uma Valinhos dos idos de 1920, tempo em que o Ribeirão Pinheiro tinha peixe para se pescar...
Ela ia ser batizada de Clotilde, mas quando o pai chegou no cartório, não se lembrou do nome escolhido em conjunto com a mãe. Então decidiu: pode ser Maria. Para não ser confundida com a prima de mesmo nome, passou a der carinhosamente chamada de Mariquinha!
E a filha de Felipe Spadaccia e Dona Faustina foi para o “pódio”, por ser a primeira filha mulher do casal de imigrantes italianos (Felipe e Faustina vieram da Itália com 14 e 2 anos, respectivamente, se conheceram, se casaram e tiveram filhos aqui).
A casa dos Spadaccia era ali em frente, onde hoje é um supermercado, beirando uma estreita rua que ia lá para os lados da Fazenda Capuava.
A esperta Mariquinha contou-me com alegria: “Eu andava a cavalo, aprendi a nadar no Ribeirão Pinheiro. Subia e descia o rio com um barquinho, levando bastante gente para passear”.
Um dia, enquanto a mãe lavava roupa na beira do Ribeirão, a garota Mariquinha decidiu que iria aprender a nadar. Segurando-se na prancha de esfregar roupa, ela batia os pés na água. Logo aprendeu a soltar as mãos e lá se foi, descendo ribeirão abaixo, até a lagoa do lenheiro. Depois subia até onde, hoje é a Prefeitura. Em todo o trajeto, havia muitos chorões plantados nas margens, e ela achava e sentia que “era como se estivesse atravessando um túnel verde-sonho!”
E dona Mariquinha continuou mergulhada nas lembranças de mais de oitenta anos passados.
 “Era tão bom quando minha mãe torrava café na panela de ferro, naquele fogão a lenha! Ficava aquele cheirinho gostoso de se cheirar! Minha mãe fazia um macarrão talharim delicioso! E também uma bola de massa, que depois de seca, ela ralava pra pôr na sopa... “
A garota Mariquinha fez os seus estudos no primeiro Grupo Escolar de Valinhos, construído ali onde hoje é a loja Marisa. O diretor era o professor Américo Beluomini, e que também não se esqueceu das professoras Alice Sueli Nonato, Cecília e Sofia.
Depois, fui matriculada na escola de desenho do professor Tomaz Perina, em Campinas, onde aprendi a desenhar usando guache, lápis, nanquim e óleo sobre tela. Sempre me encantei com a natureza, o pôr do sol, os pássaros, as árvores... que até hoje gosto de pintar. Um dia vi um flamboiã  florido e cheio de pardais em algazarra. Pintei um quadro lindo!”
A moça Mariquinha era afoita e gostava de participar de novidades. Quando foi criado o primeiro coral com moças, nem precisava dizer que entre as 20 moçoilas inscritas, uma era a Mariquinha! Ela lembrou que a Neida Borim foi a primeira ensaiadora. Depois, veio a Mirian de Salvi.



(1) Mariquinha com a irmã (2) Amelinha no colo (3) Angelim (irmão) (4) Luiz (amigo) (5) Olivinho Bozza (amigo) (6) Higino (irmão) (7) Dária Boza (amiga)


Outras lembranças
Enquanto preparava um cafezinho, Dona Mariquinha foi falando. “Onde hoje é o mirante do  lenheiro já teve uma plantação de trigo. Tenho saudades do tempo em que me juntava à Alzira Antoniazzi Bissoto, e enfeitávamos o andor de Jesus Ressuscitado para a procissão, que saía às 5h da Igreja de São Sebastião. Uma vez enfeitamos o andor com raio de sol, feito com cacos de espelhos. Aí, o clarão do sol nascendo batia nos espelhinhos, e ficava lindo! Eu gostava também de enfeitar as janelas das casas, para a procissão de Corpus Christi: Me lembro também que junto com a Nair Cancon, enfeitávamos com festão de cipreste e muita flor de papel crepom as barracas das primeiras Festas do Figo.
Foi delicioso ficar duas horas de um fim de tarde ouvindo a Dona Mariquinha e suas descrições de como era a pequena cidade de Valinhos; ela a falar com tanta clareza que parece que todas as suas peripércias tinham acabado de acontecer.











Edição n.º 965 - página 02




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