“Não me procures ali, / onde os vivos visitam / os chamados
mortos. / Procura-me dentro das grandes águas / ou junto aos pássaros / ou
espelhada num outro alguém. Pedra / semente / sal. / Passos da vida. /
Procura-me ali. Viva.”
(Hilda Hilst, poeta, dramaturga, escritora)
Uma das
principais representantes do movimento feminista no Brasil, mulher determinada
em tudo, desde a luta contra a cegueira, até a luta por suas ideias, a
escritora e feminista Rose Marie Muraro morreu aos 83 anos, há alguns dias.
Rose Marie
estudou Física, mas se dedicou profissionalmente a escrever e editar livros. Como
autora, publicou 35 títulos, entre os quais “Sexualidade da Mulher Brasileira”
e “Corpo e Classe Social no Brasil”.
Em 1975, ela
fundou o Centro da Mulher Brasileira, para difusão de suas ideias feministas.
Por trabalhar
na editora católica Vozes, sua atuação como editora ligada à Teologia da Libertação
incomodou a igreja, especialmente depois da publicação de “Por Uma Erótica
Cristã”. Em 1986, ela e Leonardo Boff foram demitidos da editora depois de 17
anos de trabalho conjunto (eles escreveram juntos “Masculino/Feminino”, livro que estuda a
relação entre os gêneros).
A publicação da
autobiografia “Memórias de Uma Mulher Impossível” atesta a luta de Rose Marie Muraro pela emancipação das mulheres. Em 2005, ela foi nomeada a Patrona do Feminismo Brasileiro.
"Rose Marie Muraro mostrou em sua saga pessoal que o
impossível não é um limite mas um desafio. Ela se inscreve na linhagem das
grandes mulheres arquetípicas que ajudam a humanidade a preservar viva a
lamparina sagrada do cuidado por tudo o que existe e vive. Nesse afã ela se
tornou imorredoura", escreveu Leonardo Boff, que ressaltou no início do
texto o fato de que a escritora nasceu com uma deficiência visual que a tornou
praticamente cega – só aos 66 anos, ela se submeteu a uma cirurgia e recuperou
a visão. Boff destacou a atuação de Rose Marie nas discussões sobre gênero e
afirmou que a escritora "não se limitou à questão das relações desiguais
de poder entre homens e mulheres mas denunciou relações de opressão na cultura,
nas ciências, nas correntes filosóficas, nas instituições, no Estado e no
sistema econômico. Enfim, deu-se conta de que no patriarcado de séculos reside
a raiz principal desse sistema que desumaniza mulheres e também homens",
escreveu.
Por enfrentar desafios imensos e por sua dedicação
incansável, Rose Marie Muraro se tornou imorredoura: pode ser procurada dentro
das grandes águas, ou junto aos pássaros, ou espelhada num outro alguém. Ela é
semente: para sempre viva na nossa admiração!