“Sou um homem de
letras, nada mais. Não estou certo de ter pensado nada de original em minha
vida. Sou um fazedor de sonhos.”
Jorge Luis Borges
Em 14 de junho de 1986 morreu Jorge Luis Borges – há 28 anos, o
escritor, poeta e ensaísta argentino, por certo foi fazer sonhos noutro
lugar... Aprendeu a ler em inglês, antes de aprender castelhano, por influência
de sua avó materna, de origem inglesa. Aos 6 anos já queria ser escritor. Aos
sete escreveu, em inglês, um resumo de literatura grega. Aos oito, inspirado
num episódio de "Dom Quixote" de Cervantes, fez seu primeiro conto:
"La Visera Fatal". Aos nove anos, traduziu do inglês "O Príncipe
Feliz" de Oscar Wilde.
"Não criei personagens. Tudo o que escrevo é
autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de
fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve
origem em minha emoção."
Duvido de quem diz não gostar de poesia, de arte. A vida é
permeada de manifestações poéticas e artísticas. Não é coisa de final de semana
– é do dia a dia. Penso que às vezes nos falta o olhar certo, o foco muda ou se
perde em meio às chatices, que também fazem parte da vida. Só por isso. Basta
apurar os sentidos e vemos que estão lá – arte e poesia. Numa música, num
olhar, num desenho ou num sonho. Pode ser um desejo e até mesmo necessidade –
mas estão lá!
Seus livros mais significativos apareceram somente no período
da Segunda Guerra – Ficções (1944) e O Aleph (1949), ambos coleções de contos
ligados à estética do realismo mágico, corrente cujo próprio Borges foi precursor.
A partir da década de 50, afetado por uma cegueira progressiva, passou a se
dedicar principalmente à poesia. Seu último trabalho foi “Os Conjurados”, em
1985.
Para homenagear os sentidos, um de seus poemas mais
conhecidos...
Não
são mais silenciosos os espelhos
Nem
mais furtiva a aurora aventureira;
Tu
és, sob a lua, essa pantera
que
divisam ao longe nossos olhos.
Por
obra indecifrável de um decreto
Divino,
buscamos-te inutilmente;
Mais
remoto que o Ganges e o poente,
É
tua a solidão, teu o segredo.
O
teu dorso condescende à morosa
Carícia
da minha mão. Sem um ruído
Da
eternidade que ora é olvido.
Aceitaste
o amor desta mão receosa.
Em
outro tempo estás. Tu és o dono
de
um espaço cerrado como um sonho.
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