Depois da defenestração do
ministro da Educação Cid Gomes por determinação do presidente da Câmara dos
Deputados Eduardo Cunha, que está se revelando um espinho no calcanhar da
presidente Dilma, o novo ministro da Educação Renato Janine Ribeiro — que
talvez preferisse o ministério da Cultura —, em seu discurso de posse enunciou
algumas questões sobre a pátria educadora. Duas dessas questões estão a merecer
a nossa reflexão.
Na primeira acena com a
possibilidade de flexibilizar os currículos, na linha de controversas propostas
pedagógicas, ainda discutíveis, pois, na prática, a experiência concreta
apresenta grandes desafios. A flexibilização dos currículos, que torna o
aprendizado prazeroso e com maior participação dos alunos, tem uma visão mais democrática
e abrangente do processo pedagógico. Ocorre que tal flexibilização curricular
foi colocada em prática em países desenvolvidos que fizeram experimentos
radicais nesse sentido, mas que trouxeram outros problemas ainda não solucionados.
O fato é que tal experiência — porque não passa disso — é um campo em aberto, e
o Brasil precisa garantir uma boa formação de base no Ensino Fundamental e
Médio, para que o aluno não chegue ao ensino superior sem os requisitos
essenciais e necessários para enfrentar o curso que escolheu. Ao mesmo tempo, é
necessário que haja terminalidade profissional, pelo menos no fim do Ensino
Médio, sobretudo para que jovens que não pretendam cursar uma faculdade possam
se integrar ao mercado de trabalho.
Quanto à segunda questão levantada
pelo novo ministro é a de que é preciso haver mais formação política nas
escolas. Opa! Esse tema é delicado, tendo em vista a preocupação de muitos,
inclusive a deste articulista, que acabe prevalecendo determinada doutrinação
ideológica no contexto de uma sociedade plural, o que foi objeto de audiência
pública recente na Câmara dos Deputados. Não podemos esquecer que a educação
visa a formação geral da pessoa, e a experiência histórica mostra que a
doutrinação política em escolas pode favorecer determinadas concepções,
especialmente aquelas dos que estão no poder. O que é necessário é uma
formação cidadã para que o jovem possa exercer suas opções políticas na
sociedade com independência e espírito crítico. Educação política não significa
“fazer a cabeça” dos jovens e sim dar-lhes ferramentas para que possam pensar
por si.
O que o ministro propõe
certamente deveria ser objeto de ampla discussão com a sociedade, com os
especialistas em Educação, antes que qualquer medida seja tomada nesse sentido.
O fato é que precisamos estar sempre dispostos a novas possibilidades diante
dos desafios existentes a cada época histórica. Mas precisamos estar vigilantes
para que o discurso ministerial não fique apenas no enunciado de teorias e
ideias. Afinal de contas, somos a “pátria educadora”!
Edição n.º 982- página 08
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