Com o mesmo título da mais famosa
composição do valinhense Adoniran Barbosa — “Trem das onze” — dois
interessantes textos foram publicados na
Folha de S.Paulo.
O de Vera Magalhães, do dia 17 de
fevereiro, levava em conta, entre outros temas, projetos relativos ao
transporte urbano: “No final do ano passado, o IDS — instituto ligado a Marina
Silva — promoveu um evento para lançar a plataforma “Brasil Democrático e
Sustentável”, conjunto de propostas elaborado pela ex-senadora e por colaboradores.
O ambientalista Sérgio Leitão, um dos convidados do debate, apontou o descaso
de governos com o transporte público em grandes cidades. Lembrou que, em 1964,
Adoniran Barbosa dizia que precisaria abandonar a namorada às 23h para não
perder o último trem. Hoje, as estações em São Paulo fecham à meia-noite.
Cinquenta anos depois, o máximo que o poder conseguiu oferecer aos pobres foi
uma hora a mais de amor!”
Já a senadora Marta Suplicy
escreveu no dia 3 de abril que “falta tudo. Vá a um dos encontros organizados
pela Câmara Municipal nas subprefeituras. Parece que São Paulo parou no tempo.
No Jaçanã, zona norte, na parte mais carente a demanda é a mesma faz anos. O metrô que
não chega nunca, o transporte de ônibus é insuficiente e de péssima qualidade. Com o
desastre das contas deste primeiro bimestre lembrei de Adoniran Barbosa: se São
Paulo perder esse trem...”
Mas no mesmo jornal, outro
comentarista já apontava a perda do “trem das 11”, da volta ao passado e da
falta de projeto para o futuro em que São Paulo (a cidade mais importante do
Brasil) e o próprio país estão metidos. Segundo Fernando Canzian (Folha de S.Paulo, 02/04), “os movimentos de
Lula e Dilma mostram o tamanho do atraso político e econômico em que estão
metidos. Como ficaram ultrapassados e estão caindo de podres. Depois de 30 anos
de redemocratização e 20 de estabilização econômica é como se chegássemos no
futuro voltando ao passado. E sem projeto de futuro”.
E o jornalista Gaudêncio
Torquato (www.jfolharegional.com.br, 05/04)
reconhece que, de modo geral, “a classe política está apavorada. Recebe tiros
de muitos lados. Do Lava Jato, da Petrobras e das ruas. Os estarrecedores
índices de desaprovação dos atores políticos os deixam confinados na UTI do
Parlamento. Como sair dali? Como resgatar parcela da boa imagem? Difícil tarefa
no curto prazo. Não resta outra coisa aos representantes do povo e dos Estados
(deputados e senadores), neste momento de rebuliço e mobilização social, que
uma imersão profunda no terreno ético e uma aprendizagem rápida sobre o estado
social do país. A análise sobre as razões que os jogam no fundo do poço da
descrença poderá se transformar na chave para reencontrar o tempo perdido”.
Ou seja, estão os políticos todos (com
poucas e honrosas exceções) precisando correr muito atrás do descarrilado “trem
das 11” para recuperar o tempo perdido e não perder o trem da história.
Edição n.º 982 - página 01
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