“O PT teve suas décadas de glórias, subiu a
rampa do Planalto, alçou Lula à condição de campeão de popularidade e capotou. Inebriados, o
partido e Lula meteram os pés pelas mãos, perderam a compostura, lambuzaram-se
nos palácios, nas estatais, nas mamatas e boquinhas.” (Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo,
15/04, A7)
Para homenagear Tiradentes, herói
nacional e mártir da Independência do Brasil, enforcado em 21 de abril de 1792,
e estabelecer uma interlocução com circunstâncias e fatos contemporâneos, escolhi a musicalidade e o
lirismo de alguns versos do belíssimo "Romanceiro da Inconfidência",
de Cecília Meireles, aliados à densidade expressiva de um desenho em nanquim
sobre papel, de Renina Katz, feito para ilustrar a frase: “Que a sede de ouro é sem cura, / e, por ela subjugados,
/ os homens matam e morrem, / ficam mortos, mas não fartos.”
Aqui, destaquei passagens dessa
“história feita de coisas eternas e irredutíveis: de ouro, amor, liberdade e
traição”: “De seu calmo esconderijo, / o ouro
vem, dócil e ingênuo / torna-se pó, folha, barra, / prestígio, poder ,
engenho... / É tão claro! ─ e turva tudo: / honra, amor e pensamento .”
Heráclio Camargo, procurador da
Fazenda Nacional, “entrega o ouro” na capa do caderno Aliás (O
Estado de S.Paulo, 12/04): “a Operação Zelotes desbaratou um golpe
de R$ 19 bilhões na arrecadação de impostos no Brasil. Ela não é simplesmente alta; é alta
porque injusta e porque as contrapartidas em políticas públicas são baixas.
Isso vem do Brasil Colônia e de sua tradição oligárquica de beneficiar os
poucos de sempre”.
“Sobre
o tempo vem mais tempo. / Mandam sempre os que são grandes; / e é grandeza de
ministros, / roubar hoje como dantes. / E a vida, em severos lances, /
empobrece a quem trabalha / e enriquece os arrogantes / fidalgos e flibusteiros.”
Assim, hoje como no Brasil Colônia,
os arrogantes e enganadores poderosos da vez tiveram suas décadas de glórias,
subiram a rampa do Planalto, foram alçados à alturas que os inebriaram.
Entretanto, “Já vem o peso da vida, / já vem o
peso do tempo: / pergunta pelos culpados / e pelos nomes ocultos / dos que
nunca foram presos.”
A sede com que foram ao pote de ouro do poder os fez meterem os
pés pelas mãos ao lambuzarem-se nos palácios, nas estatais, em mamatas e
boquinhas. Perderam totalmente a compostura, e ainda não se fartaram.
“Mas a história tem seu tempo. Hoje, no calor de tantas emoções e tantas
crises, o sentimento é de “fora Dilma, fora PT”, o que, na essência, significa
“fora Lula”. Na narrativa cotidiana atual, ele é o santo de pés de barro,
derretendo com o insaciável PT e com os desastres de Dilma – decisiva para
apagar do horizonte o “Lula 2018”, conclui Eliane Cantanhêde o seu artigo no Estadão.
Quem viver, verá...
Edição n.º
983 – página 01
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