“É certo
que a República vai torta; Ninguém nega a duríssima verdade. Da pátria o seio a corrupção invade. E a lei, de há muito tempo, é letra morta”. (do poema "Esta República", de Bastos Tigre, 1882-1957, jornalista, bibliotecário, poeta, compositor, humorista)
“A República” é o diálogo mais célebre, mais lido e mais
comentado de Platão (427-347 a.C.). Com diversos temas filosóficos, morais,
sociais e políticos entrelaçados, ele foi escrito com o objetivo de refletir sobre um
problema de seu tempo: como impedir que as cidades-Estado gregas (Atenas,
Esparta) naufragassem na anarquia de interesses particulares de ambição pelo
poder em que estavam mergulhadas?
O afresco “A escola
de Atenas” (no Palácio Apostólico/Vaticano) pintado por Raphael, entre 1506 e
1510, mostra a preocupação do filósofo grego em discutir essas ideias com os cidadãos
atenienses.
Para Platão, a
questão chave é a da justiça: governar é estar a serviço dos governados e
contribuir para o bem estar coletivo, ainda que os homens sejam gananciosos e
queiram mais do que seriam merecedores e que cumpram as leis por pura
conveniência.
O conceito de “república” pode ser entendido
como sinônimo de administração do
"bem comum", mas pode se confundir, às vezes, com
“democracia”, outras vezes com “liberalismo”, segundo alguns autores. Hoje em
dia, o termo “república” refere-se, em geral, a um sistema de governo cujo
poder emana do povo, ao invés de ter outra origem, como a hereditariedade ou o
direito divino.
República é a forma de governo na qual o
chefe do Estado é eleito pelo povo, por meio de voto livre e secreto, e seu
mandato tem uma duração limitada.
Esse regime se opõe, portanto, à
monarquia.
O regime republicano
de governo foi adotado no Brasil em 15 de novembro de 1989, acontecimento
contado com minúcia de detalhes históricos (não totalmente revelados nos
compêndios escolares) no
novo livro do premiado jornalista e escritor Laurentino Gomes: 1889.
Com o subtítulo "Como um Imperador Cansado, um Marechal
Vaidoso e um Professor Injustiçado Contribuíram para o Fim da Monarquia e a
Proclamação da República no Brasil", o livro traz eventos e episódios
relevantes daquele período, como a Guerra do Paraguai e o movimento
abolicionista, por exemplo.
Naquela época, o império
brasileiro era tido como a mais sólida, estável e duradoura (67 anos)
experiência de governo na América Latina. O austero e admirado imperador
D.Pedro II, um dos homens mais cultos do seu tempo, foi deposto e obrigado a
sair do país junto com toda a família imperial. Enquanto isso, os destinos do
novo regime ficou nas mãos de um marechal já idoso e bastante doente, o
alagoano Manoel Deodoro da Fonseca.
Assim, diversas conjunturas ─ o imperador cansado e o
marechal vaidoso (além do professor injustiçado, das barbáries e perdas da
Guerra do Paraguai, e das exigências do movimento abolicionista) ─ contribuíram para a Proclamação da República que, hoje,
como em 1904, quando foram escritos os versos de Bastos Tigre, vai torta, coitada!
Impossível negar essa duríssima verdade: a
corrupção de instituições governamentais e de homens públicos (com as honradas
exceções de praxe) invade o seio da nossa pátria amada. E para alguns, há muito
tempo a lei é letra morta.
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