sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A dança das cadeiras



Depois que o Tribunal Superior Eleitoral concedeu registro a duas novas siglas e o negou a uma outra, houve intensa troca de partidos na Câmara com vistas à eleição de 2014. Dos 513 deputados federais, 59 já não pedirão voto pelo partido pelo qual concorreram em 2010, aproveitando a brecha da lei eleitoral que permite mudar a filiação sem risco de perder a cadeira, e entraram nos dois partidos que acabaram de ser fundados.
                                                                                                             (O Estado de S.Paulo, 9/10)
  
A dança das cadeiras é uma brincadeira infantil em que um determinado número de cadeiras (sempre uma a menos do que o número dos participantes) é encostado de costas umas para as outras, com os assentos virados para fora (1). Uma música é colocada para tocar, enquanto todos os jogadores dançam em volta das cadeiras. Quando a música para, cada um deve tentar ocupar um lugar. A criança que não conseguir sentar sai do jogo e leva consigo mais uma cadeira (2). O vencedor será aquele que conseguir sentar na última cadeira.




Na semana passada, a articulista Eliane Cantanhêde (Folha de S.Paulo, 18/10) constatou que tudo indica que os candidatos de 2014 serão Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos, mas as suas "sombras" não apenas se mexem como falam cada vez mais.
Lula, o instintivo, insiste em bater na imprensa, para desqualificar as críticas, e provoca: "Falem mal, mas falem de mim".
Serra, o persistente, aproveitou uma passadinha por Brasília para deitar falação de candidato e criticar o PSDB pela antecipação do debate eleitoral, e mandou recado para o partido: "Estou disponível para o que der e vier".
E Marina, a dissidente, conseguiu o maior feito político: bater boca com Dilma, presidente da República e líder nas pesquisas.
A “sombra-mor” parece concordar com a colunista da Folha. Em encontro com aliados, esta semana em Brasília, o ex-presidente Lula disse (com a fineza e o tato indiscutível que lhe são peculiares): “Eu já fui “sombra” (da presidente Dilma Rousseff), mas não sou mais. E, se encherem muito o meu saco, vou voltar em 2018”.
 Na disputa pelo Palácio do Planalto, a nova coligação Campos/Marina, que fala em "terceira via" e em "despolarizar" o ambiente, obrigou todos a retocarem a maquiagem e a se preocupar com o que falarão daqui para a frente, notou Marco Aurélio Nogueira (O Estado de S.Paulo, 26/10): “Esse é o principal efeito, que se afirmará mesmo que Eduardo e Marina não digam nada de especial e venham a naufragar amanhã. Se antes ambos surgiam como coadjuvantes de uma nova corrida entre PT e PSDB, agora, unidos, invertem a situação: tornam-se protagonistas com razoável poder de fogo, quer para incomodar, forçar um distinto desfecho para o embate ou oferecer aos eleitores uma perspectiva de futuro”.

Essas novas coligações de presidenciáveis e/ou a mudança de partidos de congressistas e candidatos a candidatos desinteressados, todos, de encontrar novos recursos para a melhoria do bem comum dos cidadãos, acomodados que estão na mesmice, no artificialismo e na inoperância de um discurso político saturado ─, parecem estar brincando, de salto alto (como mostra a charge (3) de Cícero), a tradicional dança das cadeiras.

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