A
comemoração para o carnaval, tradicional festa popular brasileira (ao lado do
futebol) está próxima. O Carnaval é a festa da alegria do povo brasileiro,
marcada pela criatividade, tendo se tornando uma expressão da arte popular, da
cultura nacional. E quando se fala em carnaval, pensa-se automaticamente no Rio
de Janeiro. No mundialmente famoso carnaval do Rio. É como pedir refrigerante.
Quando perguntam qual o refrigerante que você quer tomar, a resposta,
invariavelmente, é coca-cola. Parece que virou sinônimo. Mas, a respeito do
carnaval, há uma questão que não me sai da cabeça. Tá martelando!... Ainda
existe no Rio carnaval feito pelo povo e para o povo, assim como a praça é do
povo, nos versos de Castro Alves?
A
propósito, em 1959, Manuel Bandeira, poeta, crítico literário e de arte,
professor de literatura e tradutor, integrante da geração de 22 da literatura
moderna, que produziu a famosa Semana de Arte Moderna de 1922, escreveu ao
Jornal do Brasil que o carnaval Está morrendo mesmo. Bandeira dizia,
naquela oportunidade: “(...) Carnaval no Rio houve, mas foi no tempo que
ainda existia a Rua do Ouvidor. (...) A abertura da Avenida Rio Branco foi o
primeiro golpe sério no carnaval. A festa diluiu-se, perdeu o calor que lhe
vinha do aperto. Mas durante alguns anos houve o corso que era realmente lindo
com o seu espetáculo de serpentinas multicores. Os automóveis fechados vieram a
acabar com ele. Junte-se a isso a
comercialização das músicas, a intromissão do elemento oficial premiando uma
coisa cujo maior sabor estava em sua gratuidade... Vale a pena lamentar?
Acho que não. (...) A vida é renovação. (...) Quem não estiver contente com o
presente, viva, como eu, das saudades do passado.”. Sábio Bandeira!...
O
tempo hoje é outro, mas os argumentos de Bandeira continuam incrivelmente
atuais. Tenho pensado muito nisso. É válido um espetáculo que se diz popular,
que nasce do seio do povo, pago? Isto é, que para dele usufruir você tenha que
pagar e ficar apenas assistindo, sem poder participar? Um espetáculo que é
produzido por “bicheiros” e políticos, com base na competição e no lucro? Para
gringos? Para a TV Globo? Para ser comercializado lá fora?
Felizmente
o carnaval do Nordeste com os frevos, os trios elétricos etc., proporcionam dias
de folia e descontração, onde as ruas são tomadas por todas as cores, e os
foliões vão para ruas e as avenidas, em desfiles que se estendem por toda a
madrugada, até a manhã do dia seguinte, de graça, sem pagar nada, revivendo,
dentro do possível, a tradição carnavalesca. Assim como em cidades do interior
deste imenso país-continente que insistem em manter o calor dessa tradição com
a verdadeira participação do povo numa festa que busca o congraçamento daqueles
que querem uma diversão sadia.
De
qualquer forma, o que não se pode deixar acontecer é que o Carnaval perca este desejado
espírito de confraternização, e que os brasileiros temam ir às ruas por causa
da violência, principalmente depois das manifestações que tomaram conta do país
desde junho do ano passado. Que o Carnaval seja, afinal, um momento de alegria
para todos, sem abusos, para que possa haver dias de descontração, com menos
violência.
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