sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

UM PAÍS SURREAL


É preciso que trabalhem a toque de caixa, que faltam cinco para a meia-noite.
O momento é grave. Esta é a chance derradeira, senhoras e senhores do andar de cima! É o “trem das onze” - e já está apitando a partida. Se bobear, só amanhã de manhã. Se houver amanhã.” (José Horta Manzano, CORREIO BRAZILIENSE, 01/02)




O surrealismo surgiu na França na década de 1920. O movimento foi influenciado pelas teses psicanalíticas de Freud, as quais mostravam a importância do inconsciente na criatividade humana. As obras surrealistas são repletas de humor, sonhos e utopias,  combinando informações contrárias à lógica e exaltando a liberdade de criação.
Salvador Dalí (1904-1989), cujo rosto ilustra essa nota de “cem surreais”, foi um dos mais importantes artistas plásticos surrealistas da Espanha. Ele trabalhou com a distorção e justaposição de imagens do cotidiano de uma forma inesperada e surpreendente. Nesse sentido, a reprodução da nota é uma boa mostra do que o artista criaria, se fosse vivo nos tempos de hoje, neste país surreal, no qual “a República fede”; onde a “baderna” parece generalizada (tanto nos altos escalões do andar de cima, como nas ruas), em que “até Deus parece ter sido enganado”...
Ou não está se tornando surreal um país em que “os governistas se agarram desesperadamente aos cargos; em que falta liderança; em que a política social distributivista sem o crescimento do grau de qualificação das pessoas não passa de mero exercício de enxugamento de gelo; em que o governo é pródigo em promessas e ineficaz na resolução dos problemas”?, como escreveu Dora Kramer (O Estado de S.Paulo, 05/02, A6).
E não está se tornando surreal um país com a “economia em perdição; com  corrupção às escâncaras, desmandos, volta da inflação, compadrio, malfeitos, promiscuidade entre o público e o privado; com permissividade, fiscalidade extorsiva, desleixo no trato da coisa pública, nível de instrução cronicamente baixo, black blocs, rolezinhos, acidentes em estádios, atraso nas construções, gente graúda na cadeia, nós logísticos encruados. Daqui a pouco mais de quatro meses, um pontapé marcará o início da "Copa das Copas". Como fugir ao vexame que se prenuncia − em transmissão direta a bilhões de telespectadores?”, se questiona o articulista José Horta Manzano.
Não parece surreal um país em que, na reforma ministerial, nenhum partido brigue pelo Ministério da Cultura, pela pasta de Assuntos Estratégicos, por um lugar no Desenvolvimento Agrário ou na Previdência, mas se digladiem para comandar outros Ministérios (o da Integração Nacional, o dos Transportes ou o das Cidades), porque eles têm dinheiro e instrumentos para liberação de recursos para prefeituras? Veja-se que a  discussão não envolve o aprimoramento das políticas públicas, nem a melhoria do desempenho de cada um desses setores: o único critério continua sendo o do “toma-cá-dá-lá”, como sempre.
Senhoras e senhores eleitores, o “trem das onze” já está apitando a partida. Se bobearem na escolha que vão fazer nas urnas, em outubro, “só amanhã de manhã”...
Haverá amanhã, sim, mas só depois de quatro anos.
E isso não é surrealista?









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