Esta expressão
popular é muito usada em Portugal e na Espanha (“No hay dos sin tres”) e tem
até uma correspondente em inglês: “misfortune always comes in threes” (azares
sempre vêm em três). O dito incorpora o número cabalístico "três",
relacionando uma certa constância entre a cifra e os acontecimentos, como se um
fato acontecido duas vezes, pudesse fazer supor a invariável ocorrência de uma
terceira vez para o mesmo tipo de infortúnio, má sorte ou azar.
No dia 11, não apenas os principais jornais brasileiros
noticiaram o desfecho trágico provocado pela atual mobilização de grupos radicais nas manifestações de rua. Também na Europa (o Le Monde,
na França; o Il Messaggero, na
Itália; a BBC de Londres, na
Inglaterra) e nos Estados Unidos (The Wall
Street Journal; Associated Press), a imprensa internacional destacou
que a morte do jornalista levanta preocupações sobre a segurança na Copa do
Mundo deste ano.
No entanto, “não havia brasileiro razoavelmente informado que
já não soubesse que os black blocs sempre fizeram o possível e mais do que o
razoável para que os policiais encarregados de reprimir seu vandalismo nas ruas
das cidades brasileiras produzissem um mártir. O cinegrafista da Band Santiago
Andrade morreu em consequência de ferimentos na cabeça, vítima da explosão de
um rojão disparado no centro do Rio num protesto violento contra o reajuste da
tarifa de transportes públicos. Eis o mártir! O buscapé disparado da calçada a
poucos metros de onde a vítima estava foi criminosamente preparado por vândalos
cujas feições estavam escondidas por máscaras e panos com os quais encobriam o
rosto", escreveu José Nêumanne (O Estado
de S.Paulo, 12/2, A2).
Em uma longa entrevista concedida à TV
Globo, quando o segundo acusado da morte de Santiago foi preso na Bahia, na
4ª-feira, o advogado de defesa dos dois indiciados disse que “tudo foi uma
fatalidade; que não houve intenção de matar ninguém; que esses jovens são tão
vítimas quanto o cinegrafista e a família dele; que há aliciamento de jovens
para as manifestações de rua, comprados a R$ 150,00 (necessários para
complementar a pouca renda dos aliciados!, segundo o advogado); e que a polícia
é quem deve investigar quem são os aliciadores”.
A colunista Martha
Medeiros (Zero Hora, 12/2) tem a
opinião de que não foi nem azar, nem fatalidade:
“Quem viu as imagens do rojão que atingiu o cinegrafista Santiago Andrade
durante um protesto no Rio considerou a tragédia um azarão. Não foi azar de
quem soltou o artefato, nem azar de quem estava no caminho. Houve, mais uma
vez, a falta absoluta de conexão entre causa e consequência, uma relação lógica
que entrou em desuso.
Quem lida com material explosivo no meio da rua (ou dentro de
um estádio, como aconteceu no ano passado num jogo do Corinthians, na Bolívia)
tem de estar ciente de que pode ferir e até matar outros”.
Neste sentido, a
morte do jovem boliviano de 14 anos (atingido no rosto por um sinalizador naval
que partiu da torcida do Corinthians, no jogo entre San José e Corinthians,
pela Libertadores da América) foi a primeira vez.
A morte do cinegrafista brasileiro de 49 anos, vítima da explosão de um rojão disparado no protesto
contra o reajuste da tarifa de transportes públicos no Rio foi a segunda vez.
Para evitar que haja uma outra morte, na terceira vez que
confirmaria o dito popular, o único
antídoto contra a atuação da ignorância assassina de grupos sem identidade,
sem mensagem, proposta ou ideologia definidas é a educação.
Não o aliciamento, não as esmolas governamentais, não a
manutenção do status quo da miséria do analfabetismo e da pouca instrução, mas
a educação de qualidade.
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