“O jornalismo não é apenas uma caixa de ressonância de valores em disputa.
Se nos cabe reportar a ação dos que não toleram a democracia, é preciso
evidenciar que o regime de liberdades é inegociável e que os critérios com que
se avalia a violência de quem luta contra uma tirania não servem para medir a
ação dos que protestam num regime democrático. Dois dias depois da morte de
Santiago, o moribundo MST organizou uma arruaça em Brasília e feriu 30
policiais, oito deles com gravidade. A presidente decidiu receber a turba pra
conversar. Eu acuso a "red bloc" Dilma Rousseff de ser omissa, de
abrigar a violência e de promover a baderna.” (Reinaldo Azevedo, Folha de S.Paulo, 14/2)
Nos anos 1890, o oficial de artilharia
do exército francês Alfred Dreyfus, de origem judaica, foi julgado e condenado
por alta traição num processo fraudulento e baseado em documentos falsos. Mas
Dreyfus era inocente! Em desagravo, o escritor francês Émile Zola publicou em
1898 uma carta aberta ao presidente da República no jornal “L'Aurore”,
cujo título era “Eu acuso...!”.
Desde então, esse título se
transformou num bordão, usado sempre que quem o emprega quer denunciar alguma
injustiça ou algum erro de julgamento. Exatamente como fez o articulista da Folha na
forte acusação que aqui serve de epígrafe.
De um modo mais
atenuado, o ex-ministro da Justiça Paulo Brossard comentou o mesmo fato no jornal Zero Hora (17/2): “a manifestação
realizada em Brasília, estimada em 15 mil pessoas vestidas uniformemente (de
vermelho – “red”, em inglês),
obviamente originárias de vários estados, comprometeu o trânsito local e
resultou em feridos quando os manifestantes tentaram ingressar no Planalto.
Essa movimentação não se faz sem recursos abundantes. Fato que está a mostrar
que há mais coisas no ar do que aviões de carreira.”
Por outro lado, como a
complementar esses comentários, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral e
ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Mello, escreveu nas páginas
amarelas da VEJA (ed. 2360,
12/2/2014) que mais importante do que reclamar nas ruas da ineficácia dos
governos é ir para a urna e escolher bem os governantes: “A sociedade não é
vítima, é a culpada. Reclama do governo e se esquece de que quem colocou os
políticos lá foi ela própria. Há um vício no Brasil de acreditar que podemos
ter melhores dias mediante novas leis. Não precisamos de novas normas, mas de
homens, principalmente públicos, que observem as já existentes. A realidade é
que houve um desgaste institucional nesses doze anos de governo do PT, com
ataques inaceitáveis ao Ministério Público, ao Judiciário e à liberdade de
imprensa.”
A preocupação da
sociedade com tais fatos (“a corrupção, os problemas de planejamento, a falta
de segurança e a infraestrutura precária” – VEJA, ed. 2360,
12/2/2014, p.52) está refletida em revistas nacionais e estrangeiras.
O fundo negro da capa da revista
Época desta semana representa o
luto pela morte do cinegrafista atingido por um rojão durante a cobertura de um
protesto no Rio de Janeiro. É também um grito necessário e imperativo de “BASTA!”
diante de uma situação que passou dos limites e foi à terrível última
consequência, devido à onda de selvageria de algumas manifestações, por ação de
minorias infiltradas e patrocinadas para tirar a legitimidade dos protestos.
Pela mesma razão, o fundo negro
e a faixa preta na bandeira brasileira que substitui o “O” do “MONDIAL”
no título de capa “Medo sobre o Mundial” da revista francesa France Football (28/1/2014) fazem referência
ao temor do que possa a vir a acontecer durante a Copa do Mundo no Brasil, “um
país atormentado por uma crise econômica e social, e longe de ser o lugar imaginado pela FIFA”.
Portanto, coragem e cuidado na
hora de votar para “mudar tudo isso que está aí”!
Em tempo:
Retificando o
que foi escrito na semana passada em “Não há duas sem três”, a morte do
cinegrafista ‒ provocada por artefato explosivo (rojão) ‒ foi a terceira vez que, infelizmente, confirmou o fatídico dito
popular. A primeira foi a morte de 242 jovens (provocada por rojão aceso em
ambiente fechado), na boate Kiss, em 27/1/13; e a segunda foi a morte do
torcedor boliviano de 14 anos (provocada por sinalizador náutico solto em campo
de futebol), em 21/2/13. Eis aí as três lamentáveis tragédias.
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