“Deste jeito é que dá o seu
recado, / de saber cada dia seu sonho frustrado, / e, no barro do chão,
recompô-lo
maior.” (Carlos Drummond de
Andrade)
Em 1956, Candido Portinari
pintou uma série de 21 desenhos a lápis sobre cartão que focalizavam duas
personagens da literatura universal: D.Quixote e Sancho Pança. Em 1972, Carlos
Drummond de Andrade fez 21 poemas alusivos àquelas gravuras: “Quixote e Sancho,
de Portinari”.
Para lembrar o dia do
aniversário do amigo jornalista, os desenhos de Portinari e os versos de
Drummond traduzem à perfeição esse Tom Quixote (1), sonhador que, no
barro das muitas dificuldades de cada dia, modela e recompõe o seu recado: uma
nova edição do NOTÍCIAS.
“A minha casa pobre é
rica de quimera
/ e se vou sem
destino a trovejar espantos, / meu nome há de romper as mais nevoentas eras […]
E não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens.”
Lutando contra “moinhos de vento” (2), ele opõe
a pobreza da realidade (os inúmeros desafios para editar o jornal) à riqueza
dos próprios sonhos (o barro a ser trabalhado a cada semana); e sai com destino
certo pelos quatro cantos da cidade a trovejar a vontade inabalável de vencer
os mais temíveis nevoeiros; e não dorme, sempre num estado de nervosismo
“abrasado”; e se alimenta de nuvens - “provas de carinho”.
“Que é loucura: ser cavaleiro andante
ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?
O que, acordado, sonha doidamente?
O que, mesmo vendado,
vê o real e segue o sonho
de um doido pelas bruxas embruxado?
Eis-me, talvez, o único maluco,
e me sabendo tal, sem grão de siso,
sou - que doideira
- um louco de juízo.”
E, no entanto, mesmo conhecendo a loucura desse cavaleiro andante – esse Tom
Quixote embruxado e sem grão de juízo, que sonha acordado a cavalgar num céu de
lua e sol (3) –, eis que muitos Sanchos o seguem como fiéis escudeiros -
articulistas, enfeitiçados por sua fibra e por sua força de vontade de tornar
real o sonho do jornal.
Que o Tom Quixote alcance a sua “estrela”!
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