“Divisão de tarefas na campanha do PT à Presidência da
República: enquanto Lula e o lulista Gilberto Carvalho veem "ódio"
por toda parte, Dilma oferece um pacote de bondades para os grandes
empresários, na esperança de que façam uma meia volta e retornem para a
candidatura dela.” (Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo, 19/6)
Impressionada com o volume de textos jornalísticos que
comentam a transformação da face/fase do ex-presidente, faço um apanhado de
alguns deles, por perceber que descrevem com perfeição o fenômeno dessa
mutação.
A articulista da Folha continua escrevendo: “O discurso de
Lula, tão velho quanto sua luta sindical na década de 1970, teve um grande
hiato com o "Lulinha paz e amor" - que o levou a subir a rampa do
Planalto em 2003 e a descer dela com imensa popularidade, oito anos depois.
Jogando fora o "paz e amor", Lulinha recupera o seu velho personagem
e o discurso da vitimização: sente-se perseguido pela elite branca, o conservadorismo,
a direita, os que querem que o povo brasileiro morra de fome para manter seus
privilégios.”
O jornalista Arnaldo Jabor (O Estado de S.Paulo, 1/7) pensa de modo semelhante:
“Outro dia, o Lula bradou: A elite brasileira está conseguindo fazer o que
nunca conseguimos: despertar o ódio de classes”. Esse “ato falho” de Lula é
sensacional. A tradução é: sempre quisemos despertar o ódio de classes, mas
nunca conseguimos.”
Ou, como diz Eliane Cantanhêde (Folha
de S.Paulo, 22/6): “O ex-presidente Lula ampliou indefinidamente os
inimigos a serem combatidos com "adrenalina" pelos petistas. O grito
de guerra passou a ser "nós" contra todo mundo, contra tudo e todos
os que não votam no PT e estão sendo jogados numa mesma vala comum: a
"direita", os "oligopólios", os "neoliberais", a
"mídia", o "capital especulativo", os
"antipopulares".
O editorial de O Estado de
S.Paulo (21/6, A3) constata: “É profundamente
lamentável que, faltando ainda quatro meses para o pleito de outubro, a
campanha eleitoral esteja enveredando pelo descaminho da retórica belicosa com
que Lula e o PT pretendem, em desespero, aprofundar entre os brasileiros a
divisão alimentada pelo ódio. É preciso tirar o ódio do caminho e estimular a
cidadania, valorizar a unidade na diversidade e lutar, com genuíno espírito
democrático, por um Brasil de todos.”
No mesmo jornal, a articulista Dora Kramer escreveu (22/6,
A6): “O PT demonstrou que encara essa eleição como uma guerra e não se intimida
em fazer da verdade sua primeira vítima. Qualquer coisa serve para construir
uma narrativa que sirva para desviar a conversa dos problemas concretos. Da
economia que patina, do atendimento de saúde sofrível, da educação vergonhosa,
da segurança pública abaixo da crítica, da inflação ameaçadora, do crescimento
pífio, do envio da ética às favas, da transformação do Estado em aparelho
partidário, etc.”, porque, como reconhece Reinaldo Azevedo (O GLOBO, 20/6), “O PT pode se perder nos
fatos, e está perdido, mas sempre se arranja nas versões”.
Assim, como ilustram a foto registrada por Emmanuel
Pinheiro (Folhapress) e a montagem
caricatural sobre o fradim Baixinho, do Henfil, “Volta à cena o discurso do
ódio. Já não é plantação, é colheita. Nenhum ódio tem sido desprezado pelo
partido do "nós" contra "eles" (Fernão de Lara Mesquita, O Estado de
S.Paulo, 23/6, A2).
“Acuado pelos fatos, com receio de perder a eleição, sem
oferecer uma resposta para os graves desafios postos no presente e
inexoravelmente contratados para o futuro, o PT resolveu acionar a tecla da
intolerância para tentar resolver tudo no grito. Cumpre aos defensores da
democracia contrariar essa prática e essa perspectiva. Não foi assim que
construímos um regime de liberdades públicas no Brasil” (José Serra, O Estado de S.Paulo, 26/6, A2).
“Vinicius de Moraes falava da grande ilusão do carnaval: a
gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho e tudo acaba na
quarta-feira. Como no carnaval, tudo acaba com o apito encerrando a Copa. Aí
virão os duros meses da ressaca e, lamento prever, o jogo feio e sujo do poder
a qualquer custo. Quem seremos no final disso tudo, como revigorar a terra
arrasada da nossa convivência política?, se pergunta Fernando Gabeira (O Estado de S.Paulo, 20/6, A2).
Revigorar essa terra arrasada da convivência política
depende de cada um dos brasileiros: quando chegar a hora, será preciso votar
para mudar tudo isso que considera errado e contrário aos princípios
democráticos, éticos e cidadãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário