sexta-feira, 4 de julho de 2014

Era “paz e amor”. Agora é “guerra e ódio”




Divisão de tarefas na campanha do PT à Presidência da República: enquanto Lula e o lulista Gilberto Carvalho veem "ódio" por toda parte, Dilma oferece um pacote de bondades para os grandes empresários, na esperança de que façam uma meia volta e retornem para a candidatura dela.” (Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo, 19/6)


Impressionada com o volume de textos jornalísticos que comentam a transformação da face/fase do ex-presidente, faço um apanhado de alguns deles, por perceber que descrevem com perfeição o fenômeno dessa mutação.
A articulista da Folha continua escrevendo: “O discurso de Lula, tão velho quanto sua luta sindical na década de 1970, teve um grande hiato com o "Lulinha paz e amor" - que o levou a subir a rampa do Planalto em 2003 e a descer dela com imensa popularidade, oito anos depois. Jogando fora o "paz e amor", Lulinha recupera o seu velho personagem e o discurso da vitimização: sente-se perseguido pela elite branca, o conservadorismo, a direita, os que querem que o povo brasileiro morra de fome para manter seus privilégios.”



O jornalista Arnaldo Jabor (O Estado de S.Paulo, 1/7) pensa de modo semelhante: “Outro dia, o Lula bradou: A elite brasileira está conseguindo fazer o que nunca conseguimos: despertar o ódio de classes”. Esse “ato falho” de Lula é sensacional. A tradução é: sempre quisemos despertar o ódio de classes, mas nunca conseguimos.”
Ou, como diz Eliane Cantanhêde (Folha de S.Paulo, 22/6): “O ex-presidente Lula ampliou indefinidamente os inimigos a serem combatidos com "adrenalina" pelos petistas. O grito de guerra passou a ser "nós" contra todo mundo, contra tudo e todos os que não votam no PT e estão sendo jogados numa mesma vala comum: a "direita", os "oligopólios", os "neoliberais", a "mídia", o "capital especulativo", os "antipopulares".
O editorial de O Estado de S.Paulo (21/6, A3) constata: “É profundamente lamentável que, faltando ainda quatro meses para o pleito de outubro, a campanha eleitoral esteja enveredando pelo descaminho da retórica belicosa com que Lula e o PT pretendem, em desespero, aprofundar entre os brasileiros a divisão alimentada pelo ódio. É preciso tirar o ódio do caminho e estimular a cidadania, valorizar a unidade na diversidade e lutar, com genuíno espírito democrático, por um Brasil de todos.”
No mesmo jornal, a articulista Dora Kramer escreveu (22/6, A6): “O PT demonstrou que encara essa eleição como uma guerra e não se intimida em fazer da verdade sua primeira vítima. Qualquer coisa serve para construir uma narrativa que sirva para desviar a conversa dos problemas concretos. Da economia que patina, do atendimento de saúde sofrível, da educação vergonhosa, da segurança pública abaixo da crítica, da inflação ameaçadora, do crescimento pífio, do envio da ética às favas, da transformação do Estado em aparelho partidário, etc.”, porque, como reconhece Reinaldo Azevedo (O GLOBO, 20/6), “O PT pode se perder nos fatos, e está perdido, mas sempre se arranja nas versões”.



Assim, como ilustram a foto registrada por Emmanuel Pinheiro (Folhapress) e a montagem caricatural sobre o fradim Baixinho, do Henfil, “Volta à cena o discurso do ódio. Já não é plantação, é colheita. Nenhum ódio tem sido desprezado pelo partido do "nós" contra "eles" (Fernão de Lara Mesquita, O Estado de S.Paulo, 23/6, A2).
“Acuado pelos fatos, com receio de perder a eleição, sem oferecer uma resposta para os graves desafios postos no presente e inexoravelmente contratados para o futuro, o PT resolveu acionar a tecla da intolerância para tentar resolver tudo no grito. Cumpre aos defensores da democracia contrariar essa prática e essa perspectiva. Não foi assim que construímos um regime de liberdades públicas no Brasil” (José Serra, O Estado de S.Paulo, 26/6, A2).
“Vinicius de Moraes falava da grande ilusão do carnaval: a gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho e tudo acaba na quarta-feira. Como no carnaval, tudo acaba com o apito encerrando a Copa. Aí virão os duros meses da ressaca e, lamento prever, o jogo feio e sujo do poder a qualquer custo. Quem seremos no final disso tudo, como revigorar a terra arrasada da nossa convivência política?, se pergunta Fernando Gabeira (O Estado de S.Paulo, 20/6, A2).

Revigorar essa terra arrasada da convivência política depende de cada um dos brasileiros: quando chegar a hora, será preciso votar para mudar tudo isso que considera errado e contrário aos princípios democráticos, éticos e cidadãos.   



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