“Uma
sociedade só será democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar
alguém e ninguém seja tão pobre que tenha que se vender a alguém.” (Jean
Jacques Rousseau)
Os leitores sabem que
defendi a Copa do Mundo no sentido de que, já que ela está aqui e acontecendo,
vamos abraçá-la e fazer desse evento o sucesso que, aliás, está sendo, graças
ao calor e a humanidade do nosso povo, do povo brasileiro.
Contudo, se por um lado
essa atitude dos nossos concidadãos me alegra, por outro lado me faz triste,
num paradoxo que dá pra explicar ou pelo menos tentar. Acredito que todos vemos
e percebemos como a população e o estado brasileiro se mobilizam em torno da
Copa do Mundo: as pessoas mudam seus horários para se adequarem aos jogos, as
empresas, as instituições oficiais também se organizam nesse sentido, ainda que
com quebra da sua produtividade. Tudo ocorre em torno de um objetivo. Nós vemos
as pessoas vibrando e vivendo a todo o momento um sentimento de felicidade com
a ideia do gol da nossa seleção canarinho e se entristecem só de pensar com a eventual
possibilidade de um fracasso. Mas não vemos essa mesma mobilização em torno da
superação dos problemas comuns e mais simples do dia-a-dia, como a infame
desigualdade das classes sociais, os barracos que lembram o “apartheid” da
África do Sul, a falta de saneamento básico, a ausência de melhoria e de progresso
do ensino nas escolas, as falhas de atendimento e a precária disponibilização
da saúde pública, a ineficiência policial ou a discutível qualidade da
governança pública nas três esferas do Poder: executivo, legislativo e
judiciário.
Não importam os problemas.
Eles estão aí e sempre estarão. Mas se não existir a fé pública e coletiva não vamos
resolvê-los por mais simples que sejam ou que se apresentem. Não há como
governar um povo e organizar instituições se ambos não desejam isso.
É bem verdade que a natureza
do brasileiro está mais para a afetividade do que para a razão. Aliás, somos o último
reduto da afetividade de um mundo empobrecido pela tecnologia. Mas temos que
fazer alguma coisa para resolver os nossos problemas — que são nossos e de
ninguém mais — mas temos que querer, que desejar fazer isso. A propósito, o famoso
publicitário e executivo americano Leo Burnett ao criar o ícone de “uma mão a
alcançar as estrelas”, que ele explicou dizendo: “Quando tentamos alcançar
uma estrela, podemos não conseguir apanhar nenhuma mas também não acabamos
com as mãos cheias de lama”, buscou dizer que nada é impossível quando, efetiva
e concretamente, queremos fazer alguma coisa.
Vamos tentar alcançar as
estrelas! Sonho impossível? Não se quisermos e desejarmos realmente, com fé.
Vamos usar de toda essa energia e união que o abraço na Copa do Mundo mostra
para mudar o Brasil para melhor, não só para nós, mas, sobretudo para nossos
filhos e netos, para as próximas gerações. Vamos lutar por este gigante ainda
adormecido. Vamos fazer do Brasil o país do futuro. Vamos fazer história!
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