Há 50 anos, na virada do mês
de março para abril, na calada da noite, os militares se empossaram como
administradores do Brasil, depondo o presidente João Goulart.
A ditadura militar durou
duas décadas.
Que tempo de temores,
inseguranças e desconfianças!
Eu frequentava um curso de
extensão cultural, para professores, e não concordando com uma aula muito xôxa
sobre técnicas de comunicação, tive a infelicidade de criticar o despreparado
professor com o comentário: “É por isso que o Brasil não vai pra frente!”
O professor imediatamente
parou com a aula e saiu um pouco da sala. Ficou um silêncio atroz.
Uma colega me chamou a
atenção, dizendo: “você vai se encrencar, porque o professor é militar”.
Não deu outra! Quinze minutos
foram o suficiente para aparecerem, na porta da sala, três policiais fardados me convidando para sair da classe. Não
atendi os policiais porque na classe uma outra colega professora, que também
era advogada, preencheu uma sumária procuração em folha de caderno. Eu assinei
e ela foi me representar, na conversa com os militares, lá no corredor.
O clima ficou insuportável.
Todos tremeram de medo, temendo uma invasão da classe.
Meia hora depois voltou a
colega advogada e comunicou que eu iria receber uma intimação para depor no
DOPS – Departamento de Ordem Política e Social em São Paulo.
Realmente, quatro dias
depois atendi à intimação. Fiquei quatro horas respondendo perguntas e driblando
insinuações do temível Coronel Erasmo Dias, comandante encarregado do inquérito
e que demonstrava suspeitar que eu pertencia a alguma célula revolucionária!
(Para quem não se lembra, o
Coronel Erasmo Dias é aquele que, comandando um pelotão, invadiu não só a
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, quebrando tudo e danificando até
a biblioteca, como também invadiu o teatro da universidade, levando muitas
pessoas para o DOPS)
Como não descobriram nada
que me incriminasse, passei mais só um tempo de castigo, ouvindo os conselhos
do coronel. Liberado, fui embora e durante os anos da ditadura militar não
emiti opinião política, confirmando o ditado “gato escaldado tem medo de água
fria”.
Em julho de 2002, retornei
ao prédio do DOPS, que passou a ser um espaço cultural, restaurado sob a administração
da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Mas, confesso, é difícil
entrar ali e esquecer aquela sensação de impotência frente a um poder
ditatorial.
Jamais será possível esquecer!
Tom Santos
Edição n.º 945 - página 02
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