“O delator é, por definição, um
criminoso confesso, e é por isso que deve ser condenado, e não por se prestar
a entregar seus cúmplices à Justiça em troca do abrandamento da condenação
que inevitavelmente lhe será imposta.” (Editorial, O Estado de S.Paulo, 01/07)
Para citar as palavras de
articulistas muito gabaritados, começo com as de Elio Gaspari (Folha de S.Paulo, 01/07): “Um dos enigmas do
comportamento político de Dilma Rousseff está na sua capacidade de viver numa
realidade própria. É a essa característica que se deve atribuir parte do
descrédito que acompanha sua administração. Diz uma coisa, faz outra e vai em
frente. Recuando quase meio século na história do país para manipular os
desdobramentos da Operação Lava Jato, a doutora afirmou o seguinte: "Eu
não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que
é." Mistificando o presente, associou o comportamento de quem passa pela
carceragem de Curitiba com o dos presos do DOI durante a ditadura. Seu paralelo
ofende o Ministério Público, o Judiciário e o Supremo Tribunal Federal, que
homologa cada um dos acordos onde estão as confissões. Nenhum preso da Lava
Jato passou por qualquer constrangimento físico. Até agora, todos os atos
praticados pelos investigadores respeitaram o devido processo legal. Misturar
empreiteiros milionários com militantes torturados é um truque que desmerece o
estado de Direito e o regime democrático de hoje. Os empreiteiros da Lava Jato
buscavam o enriquecimento pessoal e o PT enfiou-se nesse mundo de pixulecos
porque quis.”
(Além do que, é bom lembrar que foi a
própria presidente Dilma quem sancionou a lei que instituiu a delação
premiada, em 2013.)
Já o Editorial de O Estado de S.Paulo (01/07) adverte: “A
presidente da República não teve o menor constrangimento de apelar para o
argumento de que “se ele fez eu também posso” – uma especialidade dos petistas
– ao se defender das acusações de Pessoa alegando que seu adversário no
pleito do ano passado, Aécio Neves, também recebeu doações de empresas. Em
resposta, o senador tucano contra-atacou: “A presidente chega ao acinte de
comparar uma delação feita dentro das regras de um sistema democrático, para
denunciar criminosos que assaltaram os cofres públicos, com a pressão que ela
sofreu durante a ditadura para delatar seus companheiros de luta pela
democracia. Não será com a velha tentativa de comparar o incomparável que a
senhora presidente vai minimizar sua responsabilidade em relação a tudo o que
tem vindo à tona na Operação Lava Jato”. Antes de as investigações da Lava
Jato revelarem indícios claros da participação do PT na mamata, Lula e Dilma
se gabavam de que os governos do PT eram responsáveis por ter garantido à
Polícia Federal, muito mais do que recursos materiais indispensáveis ao
aprimoramento de seu trabalho, autonomia para investigar sempre, “doa a quem
doer”. Não é nenhum mérito, pois a PF não é um órgão do governo, mas uma
instituição do Estado. Mas, agora que lhe doem os calos, parece que Lula,
para fazer jus à reputação de “metamorfose ambulante”, mudou de ideia.”
A articulista Eliane Cantanhêde (O Estado de S.Paulo, 01/07, A4) argumenta:
Um tucano falar mal do governo faz parte do jogo. Um aliado peemedebista
criticar Dilma já faz parte da rotina. Mas, quando Lula abre a boca para
criticar o governo Dilma, o estilo Dilma, o autoritarismo de Dilma e o fracasso
de Dilma na economia, tudo muda de figura. E, quando ele faz isso justamente em
Brasília e justamente quando a presidente está nos Estados Unidos, a coisa
fica ainda mais feia. A sensação óbvia é que Lula desembarcou na capital da
República para assumir o controle da situação e do governo, até porque ele
se reuniu com o marqueteiro João Santana, com as bancadas do PT e com cabeças
pensantes do PMDB, mas em nenhum momento o vice e coordenador político
oficial, Michel Temer, esteve presente. Sem Dilma, sem Temer, sem Joaquim Levy,
quem é o rei do pedaço? Só isso explica o PT virar as costas tão
resolutamente para seu passado. Como imaginar o partido defendendo presos por
corrupção? E empreiteiros presos por bilhões de motivos? Ou condenando o ministro
da Justiça por “não controlar” a Polícia Federal?”
De todo modo, por intermédio de
delatores ou detratores (aqueles que dizem mal, atacam ou desvalorizam), como os
petistas consideram a “mídia golpista”, começa a ser conhecida uma pequena
parte do “iceberg” Lava Jato.
Edição n.º 995 - página 01
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