“O médico diz A, o
paciente entende B. O paciente responde X,
o médico entende Y.”
Por dois sábados de julho, dias 4 e 11, a Professora Doutora
Tatiana Piccardi ofereceu o curso “O uso da linguagem na comunicação nas práticas
da saúde”, no Hospital Infantil Darcy Vargas, em São Paulo.
Com direito a certificado e visita guiada pela enfermeira chefe
Marta por todo o hospital-referência, o grupo (formado por assistente social,
fonoaudióloga, profissional de recursos humanos, enfermeira, dentista e
jornalista) aprendeu bastante: que, como todo trabalho, a prestação de serviço
médico está submetida a leis, contratos e regras que a organizam de forma
hierárquica, institucional e generalizada. O médico é detentor de um “saber
acadêmico” (códigos, diretrizes, regras técnicas, manuais, programas,
organogramas, máquinas, aparelhos, instrumentos, etc.), e um “saber em ação”,
em função de sua experiência prática, que estabelece relações entre a vida
profissional e a vida do dia a dia, levando em conta sua história pessoal, suas
convicções sócio-políticas, seus sentimentos.
Nesse sentido, a relevância e a função da linguagem na comunicação
entre médico e paciente se acentua, mas também expõe um mal-entendido: o que é
dito por um não é compreendido da mesma
maneira pelo outro.
Compreender significaria “decodificar” convenientemente o que foi
comunicado (seja uma informação, seja uma receita, etc.), como se cada fala
tivesse apenas um único sentido - aquele conferido pelo médico - e esse mesmo
sentido fosse “decifrado” pelo paciente, com base no seu conhecimento da língua
portuguesa.
Como ficou esclarecido, seria necessário que o profissional
fizesse um esforço no sentido de “traduzir” em outras palavras o que ele fala,
e que ele “cavasse” mais tempo para não apenas ouvir, mas para escutar com
atenção e interesse o que diz o paciente.
E que ele combinasse a linguagem oral com outras linguagens: a do
olhar, a da expressão corporal (estender a mão para cumprimentar, dar um
tapinha nas costas), até mesmo a do silêncio atento e respeitoso.
Edição n.º 996 - página 01
Nenhum comentário:
Postar um comentário