sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Encarnação do filho de Deus




A imagem é um pequeno detalhe (Encarnação do filho de Deus) recortado do óleo sobre madeira “Retábulo de Issenheim”, pintado por Grünewald entre 1512 e 1516. A obra está no Museu de Unterlinden, na cidade de Colmar (França). 
Por ser tão humanamente encantador, o sorriso trocado por mãe e filho foi escolhido para ilustrar o bonito texto “Na manjedoura”, de Clarice Lispector, transcrito em seguida.


Na manjedoura estava calmo e bom. Era de tardinha, ainda não se via a estrela. Por enquanto, o nascimento era só de família. Os outros sentiam, mas ninguém via. Na tarde já escurecida, na palha cor de ouro, tenro como um cordeiro refulgia o menino, tenro como o nosso filho. Bem de perto, uma cara de boi e outra de jumento olhavam, e esquentavam o ar com o hálito do corpo. Era depois do parto e tudo úmido repousava, tudo úmido e morno respirava. Maria descansava o corpo cansado, sua tarefa no mundo seria a de cumprir o seu destino e ela agora repousava e olhava. José, de longas barbas, meditava; seu destino, que era o de entender, se realizara. O destino da criança era o de nascer. E o dos bichos ali se fazia e refazia: o de amar sem saber que amavam. A inocência dos meninos, esta a doçura dos brutos compreendia. E, antes dos reis, presenteavam o nascido com o que possuíam: o olhar grande que eles têm e a tepidez do ventre que eles são.
A humanidade é filha de Cristo homem, ele é seu pastor.
Os séculos repetem o instante do nascimento: a alegria dos homens.”

presépio está descrito nas palavras simples e poderosas da escritora.
Os sentimentos que traduzem as emoções e a magia desta época estão expressos na doçura e na meiguice do olhar sorridente entre o Cristo encarnado e sua mãe.
           
Que seja Natal em todos os corações!





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