Encarnação
do filho de Deus
A imagem é um pequeno detalhe (Encarnação do filho de Deus) recortado do óleo
sobre madeira “Retábulo de Issenheim”, pintado por Grünewald entre 1512 e 1516.
A obra está no Museu de Unterlinden, na cidade de Colmar (França).
Por ser tão humanamente encantador, o sorriso trocado
por mãe e filho foi escolhido para ilustrar o bonito texto “Na manjedoura”, de
Clarice Lispector, transcrito em seguida.
“Na manjedoura estava calmo e bom.
Era de tardinha, ainda não se via a estrela. Por enquanto, o nascimento era só
de família. Os outros sentiam, mas ninguém via. Na tarde já escurecida, na
palha cor de ouro, tenro como um cordeiro refulgia o menino, tenro como o nosso
filho. Bem de perto, uma cara de boi e outra de jumento olhavam, e esquentavam
o ar com o hálito do corpo. Era depois do parto e tudo úmido repousava, tudo
úmido e morno respirava. Maria descansava o corpo cansado, sua tarefa no mundo
seria a de cumprir o seu destino e ela agora repousava e olhava. José, de
longas barbas, meditava; seu destino, que era o de entender, se realizara. O
destino da criança era o de nascer. E o dos bichos ali se fazia e refazia: o de
amar sem saber que amavam. A inocência dos meninos, esta a doçura dos brutos
compreendia. E, antes dos reis, presenteavam o nascido com o que possuíam: o
olhar grande que eles têm e a tepidez do ventre que eles são.
A humanidade é filha de Cristo
homem, ele é seu pastor.
Os séculos repetem o instante do
nascimento: a alegria dos homens.”
O presépio está descrito nas palavras simples e poderosas da escritora.
Os sentimentos que traduzem as emoções e a magia desta
época estão expressos na doçura e na meiguice do olhar sorridente entre o
Cristo encarnado e sua mãe.
Que seja Natal em todos os corações!
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