“Um
menino nasceu. O mundo tornou a começar.” (Guimarães Rosa, em
“Grande Sertão, Veredas”)
A imagem é do óleo sobre tela “Jantar em Emaús”, pintado
em 1618 por Velásquez. A obra está no Metropolitan Musuem of Art de Nova York.
Por traduzir perfeitamente a ideia do reconhecimento
pelo ato de repartir, o quadro foi escolhido para ilustrar o bonito texto “O
anel que tu me deste”, de Martha Medeiros (jornal ZERO HORA, 22/12), transcrito em seguida.
“Aconteceu em 2005. Eu estava almoçando com uma amiga. De repente, olhei
para sua mão e fiz um elogio ao anel lindíssimo que ela usava. Ato contínuo,
ela retirou o anel e me deu. É seu. Fiquei superconstrangida, não era essa
minha intenção, queria apenas elogiar, mas ela me convenceu a ficar com ele, dizendo
que ela mesma fazia aqueles anéis e que poderia fazer outro igualzinho. De
fato, fez. Acabaram virando nossas alianças: desde então nossa amizade só
cresceu. Diante de tanto acúmulo e posse, gestos de desprendimento são raros e
transformam um dia banal em um dia especial. Não é comum alguém retirar do
próprio corpo algo de que gosta e dar de presente, numa reação espontânea de
afeto. Pessoas fazem isso por inúmeras razões. Por gostarem realmente da pessoa
com quem estão. Pelo senso de oportunidade. Pelo prazer de surpreender. Por
saberem que certas atitudes falam mais do que palavras. E por terem a exata
noção de que um anel, ou qualquer outro bem material, pode ser substituído, mas
um momento de extasiar um amigo é coisa que não vale perder. Devo estar me
transformando numa sentimentalóide, mas acredito que estes pequenos instantes
de delicadeza merecem um holofote, já que andamos muito rudes e autofocados.
Não se pode negar que um pouco de desapego torna qualquer relação mais fácil. E
não falo só de bens materiais. Desapego das mágoas, desapego da inveja,
desapego das próprias verdades para ouvir atentamente a dos outros. Não estaria
aí a fórmula do tal “mundo melhor” que tanto perseguimos?”
NOTÍCIAS deseja a todos os leitores um ano novo em que sejam
reconhecidos por esse espírito de compartilhamento, congraçamento,
desprendimento e união nas fragilidades humanas.
Que a doação de uma gentileza ou a
repartição de um dom ajude tudo a começar de novo em 2014.
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