sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sensibilidades à flor da pele: Lasar Segall e Flávio de Carvalho


De minha parte, não fiz nada mais do que faria meu pai, com quem aprendi que arte só vale se for compartilhada, dividida, com potencial para sensibilizar os seres humanos a ponto de fazê-los refletir e atuar ativa e criticamente sobre seu mundo.” (Mário Lasar Segall)


O Museu Lasar Segall, em São Paulo, foi criado  graças à iniciativa da viúva Jenny Klabin Segall, apoiada pelos filhos Oscar e Maurício. Assim, mais de 3.000 obras de Lasar Segall (1891-1957) migraram para a esfera pública, assim como as residências da família, acervos de documentos e fotografias, e a biblioteca especializada em artes do espetáculo.
No dia 29 de novembro passado, Mário Lasar Segall retomou a tradição do pai Maurício e do tio Oscar, e doou 110 obras do avô: quatro  óleos sobre tela, oito pinturas sobre papel, 80 desenhos e 18 gravuras, que cobrem cinco décadas (de 1905 a 1955) da produção segalliana, reforçando o movimento filantrópico da migração de patrimônio privado para a esfera pública.
Entre as telas doadas, duas são fundamentais: a que mostra um momento familiar importante para o pintor:  um grafite de 1927, em que ele retrata o pai Abel Segall no leito de morte, em São Paulo (antecipando, assim, em 20 anos o procedimento do artista Flávio de Carvalho, que desenhou a mãe Ophelia morrendo de câncer (“Série Trágica”), em 1947).
Outra tela importante pintada pelo judeu lituano Lasar Segall é seu autorretrato, de 1930, no qual ele teve a audácia de se representar como um negro. Esse retrato é muito relevante, se lembrarmos que naquela época crescia, na conservadora sociedade da Alemanha, um movimento totalitário e racista liderado por Adolf Hitler.

                             

Por outro lado, nos 40 anos da morte do artista plástico modernista Flávio de Carvalho (1889-1973), algumas de suas obras são exibidas no Museu de Arte Brasileira (MAB) da Faap, SP.
Artista único, multifacetado, original, irreverente, provocador e à frente de seu tempo, Flávio foi engenheiro, arquiteto, cenógrafo, diretor teatral, performer, designer e cineasta, que fez uso dessas diferentes linguagens artísticas para transcender e desconstruir (ainda mais que Segall)  os valores sociais vigentes.  
Fazem parte de sua produção agora em cartaz no MAB:  reproduções de máscaras criadas para o espetáculo de teatro-dança “O Bailado do Deus Morto”, concebido para inaugurar o Teatro da Experiência, em 1933; 12 figurinos do balé "O Cangaceiro", encenado por ele nas comemorações dos 400 anos de São Paulo, em 1954;  as primeiras plantas de obras das casas modernistas (de arquitetura "nua e lisa") na Alameda Lorena, em São Paulo; a sua “Série Trágica”; e os retratos, de tendência expressionista, de famosos como os maestros brasileiros Eleazar de Carvalho e Camargo Guarnieri, e o seu próprio autorretrato pleno de significado estético, colorido, fragmentado e plural como ele mesmo.
Além disso, o público da mostra poderá conferir uma maquete da Fazenda Capuava, em Valinhos, local onde Flávio de Carvalho morou até morrer.

Que essa arte à flor da pele nos sensibilize a ponto de nos fazer refletir e atuar ativa e criticamente sobre nosso mundo.



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