“De minha parte, não fiz
nada mais do que faria meu pai, com quem aprendi que arte só vale se for
compartilhada, dividida, com potencial para sensibilizar os seres humanos a
ponto de fazê-los refletir e atuar ativa e criticamente sobre seu mundo.”
(Mário Lasar Segall)
O Museu Lasar Segall, em São Paulo, foi criado graças à iniciativa da viúva Jenny Klabin
Segall, apoiada pelos filhos Oscar e Maurício. Assim, mais de 3.000 obras de
Lasar Segall (1891-1957) migraram para a esfera pública, assim como as
residências da família, acervos de documentos e fotografias, e a biblioteca
especializada em artes do espetáculo.
No dia 29 de novembro passado, Mário Lasar Segall retomou
a tradição do pai Maurício e do tio Oscar, e doou 110 obras do avô: quatro óleos sobre tela, oito pinturas sobre papel,
80 desenhos e 18 gravuras, que cobrem cinco décadas (de 1905 a 1955) da
produção segalliana, reforçando o movimento filantrópico da migração de
patrimônio privado para a esfera pública.
Entre as telas doadas, duas são fundamentais: a que mostra um
momento familiar importante para o pintor:
um grafite de 1927, em que ele retrata o pai Abel Segall no leito de
morte, em São Paulo (antecipando, assim, em 20 anos o procedimento do artista
Flávio de Carvalho, que desenhou a mãe Ophelia morrendo de câncer (“Série
Trágica”), em 1947).
Outra tela importante pintada pelo judeu lituano Lasar Segall é
seu autorretrato, de 1930, no qual ele teve a audácia de se representar como um
negro. Esse retrato é muito relevante, se lembrarmos que naquela época crescia,
na conservadora sociedade da Alemanha, um movimento totalitário e racista
liderado por Adolf Hitler.
Por outro lado, nos 40 anos da morte do artista plástico
modernista Flávio de Carvalho (1889-1973), algumas de suas obras são exibidas no Museu de Arte Brasileira
(MAB) da Faap, SP.
Artista único, multifacetado, original, irreverente, provocador e à frente de seu tempo, Flávio foi engenheiro,
arquiteto, cenógrafo, diretor teatral, performer, designer e cineasta, que fez uso dessas diferentes
linguagens artísticas para transcender e desconstruir (ainda mais que
Segall) os valores sociais vigentes.
Fazem parte de sua produção agora em cartaz no
MAB: reproduções de máscaras criadas para o espetáculo de teatro-dança “O Bailado do Deus Morto”, concebido para inaugurar o
Teatro da Experiência, em 1933; 12 figurinos do balé "O Cangaceiro", encenado por ele
nas comemorações dos 400 anos de São Paulo, em 1954; as primeiras plantas de obras das casas
modernistas (de arquitetura "nua e lisa") na Alameda Lorena, em São
Paulo; a sua “Série Trágica”;
e os retratos, de tendência expressionista, de famosos como os
maestros brasileiros Eleazar de Carvalho e Camargo Guarnieri, e o seu próprio
autorretrato pleno de significado estético, colorido, fragmentado e plural como
ele mesmo.
Além disso, o público da mostra
poderá conferir uma maquete da Fazenda Capuava, em Valinhos, local onde Flávio
de Carvalho morou até morrer.
Que essa arte à flor da pele nos
sensibilize a ponto de nos fazer refletir e atuar ativa e criticamente sobre
nosso mundo.
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