sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A caminhada do Papa Francisco



O Papa Francisco, no primeiro ano do seu pontificado, já promoveu profundas transformações dentro e fora dos muros do Vaticano.

O primeiro papa jesuíta e argentino da história está sacudindo a Igreja, tentando tirá-la das situações negativas em que se encontra envolvida: disputa de poder na cúria romana, suspeitas de fraude no banco do Vaticano, vazamento de documentos secretos, escândalos de pedofilia.

Com um estilo simples, despojado, pastoral, Francisco conquistou as massas, o que aumentou a frequência de fiéis.

Os peregrinos iam à Roma para ver o Papa João Paulo II, escutar o Papa Bento XVI e agora vão à cidade eterna para tocar no Papa Francisco. O pontificado de João Paulo II esteve ligado a uma Igreja dos anos 80, perseguida pelo comunismo; o de Bento XVI, um papa alemão, professor, erudito, profundo, de grande espiritualidade, esteve voltado à interioridade; o de Francisco exprime a Igreja latino-americana, que sente a necessidade de um novo anúncio do Evangelho, de uma atitude mais pastoral e missionária, com inegável mudança de tom. Francisco, na sua exortação apostólica “A alegria do Evangelho”, diz preferir uma Igreja acidentada, ferida e enlameada porque esteve nas ruas a uma Igreja doente por estar confinada e agarrada à sua própria segurança. Ele condena o que define como a globalização da indiferença e reafirma a sua opção preferencial pelos pobres e critica o modelo econômico atual.

Francisco, na sua primeira aparição internacional, na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, condenou o luxo, pregou uma Igreja mais simples e acolhedora. Para ele, a Igreja é mãe e mãe “dá carinho, toca, beija, ama”. Tem a ver com pessoas, com a nossa humanidade. Não é possível que o dinheiro tenha mais valor que as pessoas.

Francisco, aos 77 anos, sabe como se comunicar, pois sabe como partilhar, criar relações. Dá exemplos. Assume os desafios: abre caminhos e quebra resistências em todos os níveis da Igreja Católica para programar as mudanças que entende necessárias, em atitude própria de um jesuíta que tem em sua formação o discernimento como característica essencial. Por isso, convence pela prática, pois fala e age como vive, de forma simples e coerente.

Francisco já substituiu os titulares ocupantes de cargos estratégicos na Santa Sé. Acionou o G-8, o conselho de oito cardeais, já obtendo um significativo resultado: uma posição de proteção aos menores e de claro combate aos casos de pedofilia no clero. Afastou o bispo alemão de luxo por gastar cerca de 35 milhões de euros (mais de 100 milhões de reais) numa casa paroquial. Fez circular pelas paróquias um questionário de 38 perguntas sobre temas até então considerados tabus, para a preparação da assembleia dos bispos sobre a família, abordando o casamento de pessoas do mesmo sexo, a adoção por casais homossexuais, o divórcio, entre outros. Ele quer saber como os padres estão acolhendo as pessoas, como estão cumprindo a missão da Igreja.
Imaginem os escândalos, as intrigas que Francisco encontrou quando assumiu o trono de Pedro no Vaticano!... O grande e respeitado teólogo Ratzinger, o Papa Bento XVI, não aguentou. Renunciou...

Não havia grupos de consultas. Hoje, Francisco ouve conselheiros, troca opiniões, discute, dialoga.

Francisco já está enfrentando as reações dos setores conservadores da Igreja que entendem que não se pode mudar a doutrina católica para admitir, por exemplo, os divorciados nos sacramentos. Mas Francisco entende que esse assunto pode ser resolvido. Deve, pelo menos, ser discutido. E replica que essa atitude não vai mudar a doutrina da Igreja, já que acredita que a segurança está no Evangelho e não na doutrina. Deve-se agir com amor, deve-se dialogar, deve-se acolher. Para Francisco o evangelizador não pode ser carrancudo, deve ser alegre, até porque está animado do amor de Deus. Francisco não julga. Aliás, diz ele, quem sou eu para julgar?

Para um observador distante a caminhada de Francisco é tímida, seus passos são lentos, mas para os padrões da Santa Sé a velocidade dessas transformações em tão pouco tempo já é algo sem precedentes nas últimas décadas. Todavia, dentro dos muros do Vaticano comenta-se que muitas das mudanças sugeridas só devem ser adotadas nos próximos pontificados. Afinal, esse é o tempo da Igreja.









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