O
Papa Francisco, no primeiro ano do seu pontificado, já promoveu profundas
transformações dentro e fora dos muros do Vaticano.
O
primeiro papa jesuíta e argentino da história está sacudindo a Igreja, tentando
tirá-la das situações negativas em que se encontra envolvida: disputa de poder
na cúria romana, suspeitas de fraude no banco do Vaticano, vazamento de
documentos secretos, escândalos de pedofilia.
Com
um estilo simples, despojado, pastoral, Francisco conquistou as massas, o que
aumentou a frequência de fiéis.
Os
peregrinos iam à Roma para ver o Papa João Paulo II, escutar o Papa Bento XVI e
agora vão à cidade eterna para tocar no Papa Francisco. O pontificado de João
Paulo II esteve ligado a uma Igreja dos anos 80, perseguida pelo comunismo; o
de Bento XVI, um papa alemão, professor, erudito, profundo, de grande
espiritualidade, esteve voltado à interioridade; o de Francisco exprime a
Igreja latino-americana, que sente a necessidade de um novo anúncio do
Evangelho, de uma atitude mais pastoral e missionária, com inegável mudança de
tom. Francisco, na sua exortação apostólica “A alegria do Evangelho”, diz
preferir uma Igreja acidentada, ferida e enlameada porque esteve nas ruas a uma
Igreja doente por estar confinada e agarrada à sua própria segurança. Ele
condena o que define como a globalização da indiferença e reafirma a sua opção
preferencial pelos pobres e critica o modelo econômico atual.
Francisco,
na sua primeira aparição internacional, na Jornada Mundial da Juventude, no Rio
de Janeiro, condenou o luxo, pregou uma Igreja mais simples e acolhedora. Para
ele, a Igreja é mãe e mãe “dá carinho, toca, beija, ama”. Tem a ver com
pessoas, com a nossa humanidade. Não é possível que o dinheiro tenha mais valor
que as pessoas.
Francisco,
aos 77 anos, sabe como se comunicar, pois sabe como partilhar, criar relações. Dá
exemplos. Assume os desafios: abre caminhos e quebra resistências em todos os
níveis da Igreja Católica para programar as mudanças que entende necessárias,
em atitude própria de um jesuíta que tem em sua formação o discernimento como
característica essencial. Por isso, convence pela prática, pois fala e age como
vive, de forma simples e coerente.
Francisco
já substituiu os titulares ocupantes de cargos estratégicos na Santa Sé.
Acionou o G-8, o conselho de oito cardeais, já obtendo um significativo
resultado: uma posição de proteção aos menores e de claro combate aos casos de
pedofilia no clero. Afastou o bispo alemão de luxo por gastar cerca de 35 milhões
de euros (mais de 100 milhões de reais) numa casa paroquial. Fez circular pelas
paróquias um questionário de 38 perguntas sobre temas até então considerados
tabus, para a preparação da assembleia dos bispos sobre a família, abordando o
casamento de pessoas do mesmo sexo, a adoção por casais homossexuais, o
divórcio, entre outros. Ele quer saber como os padres estão acolhendo as
pessoas, como estão cumprindo a missão da Igreja.
Imaginem
os escândalos, as intrigas que Francisco encontrou quando assumiu o trono de
Pedro no Vaticano!... O grande e respeitado teólogo Ratzinger, o Papa Bento
XVI, não aguentou. Renunciou...
Não
havia grupos de consultas. Hoje, Francisco ouve conselheiros, troca opiniões,
discute, dialoga.
Francisco
já está enfrentando as reações dos setores conservadores da Igreja que entendem
que não se pode mudar a doutrina católica para admitir, por exemplo, os divorciados
nos sacramentos. Mas Francisco entende que esse assunto pode ser resolvido.
Deve, pelo menos, ser discutido. E replica que essa atitude não vai mudar a
doutrina da Igreja, já que acredita que a segurança está no Evangelho e não na
doutrina. Deve-se agir com amor, deve-se dialogar, deve-se acolher. Para
Francisco o evangelizador não pode ser carrancudo, deve ser alegre, até porque
está animado do amor de Deus. Francisco não julga. Aliás, diz ele, quem sou eu
para julgar?
Para
um observador distante a caminhada de Francisco é tímida, seus passos são
lentos, mas para os padrões da Santa Sé a velocidade dessas transformações em
tão pouco tempo já é algo sem precedentes nas últimas décadas. Todavia, dentro
dos muros do Vaticano comenta-se que muitas das mudanças sugeridas só devem ser
adotadas nos próximos pontificados. Afinal, esse é o tempo da Igreja.
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