sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Devaneios





Todo morrer é um nascer, e justamente na morte se revela a exaltação da vida. Não existe na natureza um princípio de morte, porque ela toda é vida. Aliás, como filosofa Fichte, “a morte outra coisa não é senão o desenvolvimento instantâneo de uma nova vida oculta na vida que a precedeu”. Na verdade, “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dá muito fruto”. (Evangelho de João 12:23).
Essas as razões porque a velhice me parece tolerável e muito mais agradável que enfadonha. Como disse Cícero, “se me engano ao pensar que a alma humana é imortal, me agrado nesse engano e dele não me quero livrar enquanto viva”.
Não podemos deixar de ter presente que habitamos nosso corpo transitoriamente, para uma breve parada. Não é nossa casa, mas uma singela hospedaria. Por isso é preciso que amemos a vida. Não pelos prazeres vulgares e pelas míseras ambições que ela nos oferece. Mas pelo que a vida tem de importante, de grande, de divino. Amemos a vida porque ela nos foi dada por pouco tempo. Quando lamentamos a perda de alguém, temos que entender que esse alguém apenas partiu antes. Não sejamos prepotentes, afinal de contas nós não somos imortais!
Como disse Rubem Alves, “a vida há de ser colhida diariamente”. Quem deseja economizar o hoje para o amanhã fica com a vida apodrecida nas mãos. É preciso ter tempo para vagabundear, brincar com os netos, curtir a solidão e a ausência de obrigações. Cada momento de alegria, cada instante efêmero de beleza, cada minuto de amor, são razões suficientes para uma vida inteira. A beleza de um único momento vale a pena por todos os sofrimentos vividos e experimentados.
Como já disse numa crônica anterior, “tempus fugit”. O tempo voa, está passando celeremente. E quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será… É por isso que temos que viver cada minuto com a intensidade que a fome da vida nos proporciona.



Se eu partir agora não terei do que me queixar, já que a vida foi muito generosa comigo. Mas confesso que irei contrariado porque penso ter ainda muito tempo para curtir este mundo cheio de beleza, a despeito das minhas lutas e desencantos.
A propósito, deixo aqui o meu adeus e a minha já presente saudade ao meu querido amigo Jair Barsi, que partiu ainda cedo, visto que, alma bondosa, muito tinha a semear. Aqui plantou árvore frondosa e que deu belos frutos nas pessoas dos seus filhos Allan e Anny.













Edição 962 - página 08



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