sexta-feira, 21 de novembro de 2014

PRETOBRÁS e ÁFRICA GERAIS

“O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África” (Pe. Antonio Vieira)



Há 318 anos, o sacrifício de Zumbi, o primeiro líder e mártir negro em terras brasileiras, projetava para cento e noventa anos depois a assinatura da Lei Áurea, que decretaria o fim do regime de escravidão do negro no Brasil.
Como canta Milton Nascimento, de Minas, no seu belo poema “África Gerais: África, berço de meus pais, ouço a voz de seu lamento de multidão”.
Porque da África, do Grande Golfo da Guiné, de Angola e de Moçambique, os negros aprisionados e transportados, em condições desumanas, nos porões de navios negreiros, traficados sob ferro, dor e humilhação,  foram multidões!
Chegou-se a estimar que entre 1531 e 1855, durante 324 anos, portanto, a população escrava superava a dos homens livres na Bahia, em Pernambuco, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e no Maranhão!
Entre os homens negros aprisionados em regiões africanas islamizadas, muitos eram alfabetizados em árabe, enquanto seus senhores, muitas vezes, mal assinavam o nome!
Estima-se terem ocorrido dez milhões de mortes entre os escravos, forçados com chibatadas e grilhões, durante a colonização do território brasileiro (número muito maior do que os seis milhões de vítimas no holocausto judeu, na segunda guerra mundial)!
Embora o Brasil tenha sido colonizado por um Portugal de fé católica, a influência de crenças religiosas africanas gerou aqui um notório sincretismo religioso englobando elementos da cultura negra, como Candomblé, Maracatu, Macumba e também Crioula.
Nos altares da Igreja Católica, no Brasil, também se resgata a presença negra pelas imagens de seus santos: São Benedito, Santa Ifigênia, Santo Elesbão e a padroeira da nossa pátria, Nossa Senhora Aparecida.
As festas populares do Brasil também expressam traços de origem afro, percebidos nas danças do Bumba Meu Boi maranhense e do Maracatu, nas festas de carnaval e na Capoeira (misto de dança e luta de defesa pessoal).
Hoje, é possível afirmar que a matriz formadora da identidade nacional tem traço forte do negro, miscigenado e integrado ao nosso povo. 
Paulinho da Viola enaltece o negro brasileiro: “Foi um bravo do passado, quando resistiu com valentia para se livrar do sofrimento que o cativeiro infligiu. Apesar de toda a opressão, soube conservar os seus valores, dando sua contribuição em todos os setores da nossa cultura”.
O compositor-cantor Itamar Assunção se orgulha da sua negritude brasileira: “Sou pretobrás e daí. Eu rezo cantando reggae. Sou Cruz e Souza, Zumbi, Paulo Leminski!”
E podemos acrescentar alguns outros pretobrás, mulatos ou mestiços, respeitados por suas inúmeras qualidades criativas, políticas, literárias, esportivas, musicais, científicas, humanas, etc.:  Pe. José Maurício Nunes Garcia – compositor e regente; D. Sílvio Gomes Pimenta – bispo de Mariana; Dr. Antonio Pinto Rebouças – senador; Carlos Gomes – compositor que em 19  de março de 1870 fez a primeira apresentação da sua ópera O Guarani, no Teatro Scala de Milão arrebatando a Europa; Luiz Gama, poeta e abolicionista; Juliano Moreira – médico psiquiatra; Nilo Peçanha – presidente do Brasil; Agostinho dos Santos, Simonal, Noite Ilustrada, Cartola, Clementina de Jeus – cantores e compositores; Grande Otelo – ator, Machado de Assis – escritor, fundador da Academia Brasileira de Letras; Frei Jesuíno do Monte Carmelo – pintor; Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho) – escultor; Ademar Ferreira da Silva, Garincha – atletas; Milton Santos – geógrafo... tantos e tantos outros!
Sim, existem muitos, muitos mais! A lista é enorme!
Após 126 anos da assinatura da Lei Áurea por uma mulher, a princesa Isabel, aqui convivem pretos e mestiços em tal quantidade, que isto dá ao Brasil a condição de ser o maior país mestiço do globo, confirmando o que o Pe. Vieira falou: embora o corpo brasileiro esteja na América do Sul, uma parte da nossa alma está na África!
No dia 20 de novembro comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra. Nada mais justo!









Edição n.º 962 - página 02

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