“Tenho escrito muito sobre
política, quando poderia estar falando de outros assuntos mais agradáveis.
Sucede, no entanto, que são tantos os fatos ocorridos ultimamente, envolvendo
os interesses dos cidadãos, que me sinto obrigado a comentá-los. Como já se
previa, Dilma, depois de reeleita, arcaria com a herança maldita que ela
própria criou.” (Ferreira Gullar, Folha de São
Paulo, 23/11)
Durante a campanha eleitoral, a presidente negava que
houvesse qualquer problema maior a ser enfrentado: tudo o que diziam seria
invenção, embora ela soubesse que não era. Veja-se, agora, a feia realidade dos
fatos.
Ao propor a criação de conselhos populares e o aumento da
taxa Selic (que, durante a campanha, ela afirmava que não aumentaria), a
presidente sofreu derrota na Câmara. E contrariando tudo o que ela prometera,
houve aumento da gasolina, do óleo diesel e da energia elétrica.
A Operação Lava Jato já mandou prender 23 implicados no
escândalo da Petrobras. As propinas ultrapassaram os R$ 59 bilhões! Como a
Petrobras é empresa de porte internacional, esse escândalo compromete também o
prestígio internacional da maior empresa brasileira.
Na semana passada, o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, apareceu na televisão tentando convencer a opinião pública de que
esses escândalos todos não têm maior importância, uma vez que o governo está
dando todo apoio à apuração da verdade (como se a apuração da verdade não fosse
mérito da Polícia Federal e do poder autônomo
do Ministério Público Federal). Ele disse, segundo o articulista da Folha: “Já a oposição, que
perdeu as eleições, está querendo reabrir a campanha eleitoral, como se
houvesse um terceiro turno. Quem perdeu perdeu; quem ganhou ganhou. E quem
ganhou governa".
E quem perdeu, faz o quê? se pergunta Ferreira Gullar.
Fica caladinho, porque, se falar, está querendo um terceiro turno, ou seja, dar
um golpe? Um ministro da Justiça não pode dizer uma coisa dessas, porque dá a
entender que não deve haver oposição a quem ganhou. Ou seja, só quem ganhou tem
o direito de falar, opinar, mentir à vontade. Já os derrotados, uma vez que
perderam, não podem criticar o governo porque, se o fizerem, estarão querendo
derrubá-lo...
Considerada um ícone das artes plásticas, Renina Katz
produziu, entre 2010 e 2014, uma série de 24 aquarelas representando vulcões – formas poderosas, cores fortes e marcantes, mas em tons
esfumaçados, num inspirado jogo de cor, luz e sombra.
Essas aquarelas são uma metáfora refinada dos vulcões de
herança maldita, lama e lava que têm erupcionado diariamente sobre nossas
cabeças brasileiras.
Já que temos de aguentar tanta corrupção, tanta sujeira e tanta
conversa fiada, que ao menos sejamos encantados pela beleza da arte requintada
de Renina Katz.
Edição n.º 963 - página 01
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