“Algo de nós
está ali, contido na mancha fotográfica: um destino, um desejo, uma perda, uma
palavra que pronunciada será incapaz de percorrer o caminho de volta, um
suspiro, a garganta das coisas. Sintomas dos quais surgiria, extraído desde sua
dormência, tudo o que existiu e não mais existe, presente e já passado,
presente apesar de sua ausência.”
(Diógenes Moura, curador)
Tendo como inspiração a saudade em
suas mais variadas formas e significados, a exposição A Arte da Lembrança – a Saudade na Fotografia
Brasileira propõe um percurso iconográfico pelas obras – realizadas
entre a década de 1930 e 2014 – de alguns dos mais representativos fotógrafos
brasileiros.
Com entrada gratuita, a exposição
fica em cartaz na sede do Itaú Cultural, em São Paulo (Av. Paulista nº149), até
o dia 8 de março.
Com curadoria de Diógenes Moura, a
mostra é uma viagem por meio de registros fotográficos que englobam temas
pessoais e universais: as cidades, suas construções e demolições; a ausência de um ente querido,
flagrado num momento de alegria e felicidade; objetos vazios envolvidos na
poeira do passado, entre outras muitas imagens congeladas no tempo.
As emoções e a saudade despertadas
pela exposição me fizeram rever fotos antigas de meus pais: a que foi tirada em
Poços de Caldas, onde eles passaram a lua-de-mel, em 1938, num daqueles
cenários falsos em que se colocava a cabeça; a que foi tirada (por quem? algum
lambe-lambe?) no Viaduto do Chá, numa época em que homens e mulheres usavam chapéu, e eles
andavam de terno e gravata, e elas carregavam luvas de pelica da cor dos
sapatos e bolsas, num tempo em que o movimento de pedestres e carros era quase
nenhum; e em algum lugar nevado, em Barriloche, nos anos 1950.
Desde sua dormência, esse tempo que
existiu e não existe mais, que está tão no passado, todavia está presente,
apesar de sua ausência, não apenas nessas manchas fotográficas, mas também nas
minhas saudades e lembranças.
Edição n.º 974 - página 1
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