“O ano político costuma começar só depois do
Carnaval, mas até isso mudou: 2015 começou seco, quente e antes da hora em
Brasília, com a presidente Dilma Rousseff sambando no Planalto, o PT
desafinando no Congresso e os dois derrapando na avenida. A sequência de derrotas do Planalto e do PT é impressionante pela
quantidade e pela rapidez. Dilma e seu partido não conseguem passar um único
dia sem levar uma bordoada, seja pelos índices da economia, seja pelo desastre
agora literal da Petrobras, seja pela dinâmica do Congresso. E ele precisava
ter aprovado o “convite” para os 39 ministros de Dilma irem ao Congresso, um a
cada semana, para ajoelhar e rezar? O Executivo vai passar o ano de joelhos
diante do Legislativo. Dilma erra uma atrás da outra, o ex-presidente Lula
está indócil, o PT perde todas no Congresso.” (Eliane
Cantanhêde, O Estado de S.Paulo,
13/02, A8)
Só para confirmar o
descontentamento geral, eis aqui uma colcha de retalhos de textos de diferentes
articulistas, saídos em vários órgãos da imprensa escrita na sexta-feira, 13
fevereiro. E, desde então, a cada dia as notícias só fazem piorar.
Não há imagem que “valha” mais do que essas muitas palavras que
testemunham a imensidão do descalabro de fatos delatados; a incompetência e a
truculência da presidente para gerenciar tais fatos; e o incontestável
comprometimento e/ou omissão do lulopetismo no caso do petrolão.
Em O GLOBO, o articulista Helil Cardozo escreveu
que o “O Brasil acreditou na propaganda do PT. Milhares de incautos caíram na
pegadinha do ex-presidente Lula, o melhor vendedor de ilusões que a história
recente já produziu. Nove anos depois do anúncio de que Itaboraí seria a terra
prometida, escolhida para sediar o Comperj, maior polo petroquímico do país,
assistimos estarrecidos ao sonho virar pesadelo.”
No mesmo jornal O GLOBO, outro articulista, Rogério Furquim Werneck,
reflete que “de desastre em desastre, a presidente Dilma se vê com espaço de
manobra cada vez mais restrito. O que agora se noticia é que, alarmada com a
rápida queda de sua popularidade e com a extensão da deterioração de sua
imagem, Dilma estaria convencida de que precisa se reaproximar de seu
marqueteiro. Uma reação redondamente equivocada. Passar a entremear consultas
ao espelho com sessões de ilusionismo não é exatamente o tipo de arejamento de
que a presidente precisa.”
Na Folha
de S.Paulo, Reinaldo Azevedo reconheceu: “valentias de moribundo são
um espetáculo melancólico. O PT era uma neurose. Agora é só uma necrose moral.
Para surpresa de ninguém, está na praça a tese do suposto confronto entre
"conservadores e progressistas", entre "golpistas e
legalistas", entre "nós e eles".
Em O
Estado de S.Paulo, Fernando Gabeira considerou: “escolheram mais um
suspeito de sempre. Essa frase, de um jornalista americano, sobre o novo
presidente da Petrobras é precisa. Certamente não se referia à trajetória
pessoal de Aldemir Bendine. Ele ignora que o banqueiro guarda dinheiro no
colchão ou que fez um empréstimo generoso à socialite Val Marchiori. Creio que
queria apenas dizer que o governo arruinou a Petrobras e dificilmente
encontrará alguém, dentro dos seus quadros, capaz de reconstruí-la. O grande
adversário do PT é sua própria visão de mundo. O partido considera manobra
golpista a enxurrada de dados sobre corrupção na Petrobras e outros órgãos do
governo. Por exemplo, um ex-gerente, em delação premiada, disse que o PT
recebeu mais ou menos US$ 200 milhões em propinas, na área de abastecimento. O
partido nega. O empresário de Santa Catarina que tinha 500 relógios num cofre
tem lá sua lógica. O tempo está contra a quadrilha, é preciso detê-lo de
qualquer forma”.
O editorial do Estadão também é
contundente: “A contraofensiva petista está armada para tentar impedir que as
investigações da Operação Lava Jato devastem o partido. Resta saber se haverá
dedos suficientes para tapar todos os buracos que não param de surgir no imenso
dique que ainda retém o mar de lama.”
E um último retalho para finalizar a
colcha é do Elio Gaspari, saiu na Folha de
S.Paulo e não é do dia 13, como as outras, mas de 15 de fevereiro:
“Com 39 ministros ao alcance de um telefonema, Dilma foi a São Paulo conversar
com Lula, buscando os conselhos de Nosso Guia. Sabe-se lá o que Lula teve a oferecer,
mas em menos de dois meses a doutora ficou na avenida com um desfile caótico.
Seu enredo, anunciado durante a campanha eleitoral, está vencido e algumas de
suas alas desfilam com as fantasias da escola de Aécio Neves. Seu samba, com
dois puxadores — Joaquim Levy na Fazenda e o PT no Planalto — está atravessado.
Isso tudo e mais uma arquibancada cética”.
E agora, que
o carnaval já passou? O que será?
Edição n.º 975 - página 01
Nenhum comentário:
Postar um comentário