“A Tati sempre encontrava uma rima ou um duplo sentido
nas palavras, divertindo seus leitores e ouvintes, pegando-os diversas vezes no
contra-pé. Sempre revelava brechas nos pontos finais. Como quem diz: não existe
final! As chaves da criatividade e da compreensão acabam por revelar um
universo infinito de possibilidades e conexões.” (Rabino Ventura, na
cerimônia de despedida)
Ela nasceu
em 1919, em São Petersburgo (Rússia), e imigrou para o Brasil com a família,
aos dez anos de idade, fugindo das guerras civis da então União Soviética.
Devia ter a aparência dessa foto de 1928, e trazia na bagagem seu bichinho de
pano e sua memória de estórias folclóricas russas.
Casou-se com
o médico e educador Júlio Gouveia (1914-1988). Com ele, em 1952, adaptou a peça “Os Três Ursos”
para a extinta TV Tupi, onde também estreou a primeira versão para a televisão
da obra “O Sítio do Picapau Amarelo”, de Monteiro Lobato, programa que ficou no ar por 11
anos.
Até a semana
passada, toda vez que uma montagem teatral do “Sítio" era feita, os atores
e diretores recorriam aos ensinamentos
de Tatiana, que os acolhia calorosamente em sua própria casa.
Tatiana
Belinky se tornou referência em literatura infanto-juvenil, no teatro e na televisão. Personalidade muito importante na cultura brasileira e de
São Paulo, ela recebeu
o prêmio Jabuti em 1989. E em 2010, foi eleita imortal pela Academia Paulista
de Letras.
Sua
literatura era marcada pela brincadeira, pelo humor, pela musicalidade das
rimas e pelos jogos de palavras para estimular as crianças a interpretar as estórias e achar
seu valor intrínseco. Ela dizia que “sempre quis ser bruxa, bem bonita, porque ela tem poder,
humor e exerce o senso crítico".
No final da biografia da escritora,
feita por Sergio Roveri, Tatiana
Belinky pediu que fosse incluída a
seguinte mensagem: "Quando entrego uma nova obra, eu peço uma gentileza
aos editores. Por favor, publiquem rápido para que eu tenha tempo de ver. Não
sei se posso esperar até os cem anos. Até os 95, estou disposta, mas depois
disso não me comprometo."
Mas não é o final! As chaves de sua
criatividade e compreensão nos revelam um universo infinito de possibilidades e
conexões: a fantasia, o reforço
da identidade e a solidariedade com o diferente, como ilustram seus versos:
"Tudo é humano,/ bem diferente,/ assim,
assado/ todos são gente./ Cada um na sua,/ e não faz mal./ Di-ver-si-da-de/ é
que é legal."
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