sexta-feira, 21 de junho de 2013

Era uma vez, uma contadora de histórias




A Tati sempre encontrava uma rima ou um duplo sentido nas palavras, divertindo seus leitores e ouvintes, pegando-os diversas vezes no contra-pé. Sempre revelava brechas nos pontos finais. Como quem diz: não existe final! As chaves da criatividade e da compreensão acabam por revelar um universo infinito de possibilidades e conexões.” (Rabino Ventura, na cerimônia de despedida)


         Ela nasceu em 1919, em São Petersburgo (Rússia), e imigrou para o Brasil com a família, aos dez anos de idade, fugindo das guerras civis da então União Soviética. Devia ter a aparência dessa foto de 1928, e trazia na bagagem seu bichinho de pano e sua memória de estórias folclóricas russas.
         Casou-se com o médico e educador Júlio Gouveia (1914-1988). Com ele, em 1952, adaptou a peça “Os Três Ursos” para a extinta TV Tupi, onde também estreou a primeira versão para a televisão da obra “O Sítio do Picapau Amarelo”, de Monteiro Lobato, programa que ficou no ar por 11 anos.
         Até a semana passada, toda vez que uma montagem teatral do “Sítio" era feita, os atores e diretores recorriam aos  ensinamentos de Tatiana, que os acolhia calorosamente em sua própria casa.
         Tatiana Belinky se tornou referência em literatura infanto-juvenil, no teatro e na televisão. Personalidade muito importante na cultura brasileira e de São Paulo, ela recebeu o prêmio Jabuti em 1989. E em 2010, foi eleita imortal pela Academia Paulista de Letras.
         Sua literatura era marcada pela brincadeira, pelo humor, pela musicalidade das rimas e pelos jogos de palavras para estimular as crianças a interpretar as estórias e achar seu valor intrínseco. Ela dizia que sempre quis ser bruxa, bem bonita, porque ela tem poder, humor e exerce o senso crítico".
         No final da biografia da escritora, feita por Sergio Roveri, Tatiana Belinky pediu que fosse incluída a seguinte mensagem: "Quando entrego uma nova obra, eu peço uma gentileza aos editores. Por favor, publiquem rápido para que eu tenha tempo de ver. Não sei se posso esperar até os cem anos. Até os 95, estou disposta, mas depois disso não me comprometo."

        Aos 94 anos, a “bruxa mágica” se foi para a terceira margem do rio, na semana passada. Ficamos todos um pouco mais órfãos.


         Mas não é o final! As chaves de sua criatividade e compreensão nos revelam um universo infinito de possibilidades e conexões: a fantasia, o reforço da identidade e a solidariedade com o diferente, como ilustram seus versos: "Tudo é humano,/ bem diferente,/ assim, assado/ todos são gente./ Cada um na sua,/ e não faz mal./ Di-ver-si-da-de/ é que é legal."












Nenhum comentário:

Postar um comentário