“Você tem fome de que? A gente não
quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte.
A
gente quer saída para qualquer parte...” (Titãs)
Juntando
comentários de vários articulistas e as imagens do artista plástico Elifas
Andreato, resulta uma colcha de retalhos que comentam e interpretam os
acontecimentos das últimas semanas.
“Tanto
o interior quanto o litoral ressuscitam conflitos reprimidos a exigir justiça,
eficiência e honestidade públicas. Eis um ponto de partida para compreender
como o protesto termina em revolta, porque a densidade dos gestos corresponde à
ausência de ação dos governantes que não são mais distinguíveis por partido ou
por atitudes. Não há mais quem possa fazer por nós, exceto nós mesmos. Todos os
políticos ficaram iguais no seu narcisismo e na sua surdez.” (Roberto DaMatta, O Estado de
S.Paulo, 19/6, C8)
“O
que querem os manifestantes? Querem, por exemplo, serviços públicos de primeiro
mundo; querem uma escola que, além de acolhê-los, lhes ensine com qualidade;
querem uma universidade que não seja politizada, ideologizada ou burocrática.
Querem que ela seja moderna, viva, que os prepare para o trabalho futuro. Querem hospitais com dignidade,
sem meses de espera, onde sejam tratados como seres humanos; e querem,
sobretudo, o que ainda lhes falta politicamente: uma democracia mais madura.
Querem um Brasil melhor.” (Juan Arías, jornal
espanhol El País, 17/6)
“Em
1960, Jânio Quadros iria "varrer toda a bandalheira"; em 1964, o
golpe militar veio para "acabar com o comunismo e a corrupção":
aniquilou vários comunistas e promoveu a corrupção. Collor arrasou nas urnas
combatendo "os marajás", aos quais aderiu gostosamente antes de
renunciar para não ser deposto. E o PT e
Lula, que iriam "mudar tudo isso que está aí" (proposta esquecida no
primeiro mês de governo petista)?” (Marco Antonio Rocha, O Estado de S.Paulo, 20/6, A2)
“Não entendo bem quem está do lado de
quem. Na minha memória de dinossauro, o PT era a âncora dos ativistas. Agora,
as manifestações são contra o PT? E o PSDB, que floresceu no PMDB, partido que,
com a sigla MDB, corajosamente se opunha aos direitistas pró-militares da
Arena?” (Walcyr Carrasco, revista Época, 22/6)
“A ascensão do sindicalismo não
resultou necessariamente em democracia – ao contrário, vem reforçando a matriz
tradicional, corporativista e patrimonialista. O instinto democrático tornou-se
clientelista. O processo lulista saturou rapidamente, com uma solução trôpega:
o consumo cresceu, mas quem consome não está feliz e quer viver melhor, o que
não significa apenas consumir.” (Fernando Henrique Cardoso, O Estado de S.Paulo, 22/6, C3)
“O
mundo político insiste em dizer que desconhece as causas dos protestos.
Recorrendo a Nelson Rodrigues: se quem protesta não sabe exatamente no que
bate, seus alvos sabem perfeitamente por que apanham.” (Dora Kramer, O Estado de
S.Paulo, 21/6, A8)
Assim, a discrepância entre a
indiferença e os desmandos do poder público (“tributos suecos para serviços
nigerianos”) − independentemente do matiz
partidário − e as demandas de uma sociedade
maltratada pelo Estado fez levantar bandeira e deixar um rastro de
estrelas/pedidos: a gente quer comida para alimentar o corpo, diversão para
esquecer que estamos sempre na corda bamba, e arte para embalar o espírito e a
alma : a gente quer uma saída!
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