É incoerente se criar, trabalhar e
produzir tendo a sensação de quem está atuando num sertão deserto. Tendo a
impressão de que o deserto se alastrou, invadindo repartições, gabinetes,
praças e zona rural.
O mais desconcertante é ter a certeza
de que os administradores públicos conseguiram apagar dos seus registros
mentais os compromissos assumidos.
Apenas veredazinhas de esperança são
percebidas quando um ou outro membro da máquina administrativa confessa o
descontentamento geral e lamenta a impotência da “união”, em clima de velório
cívico.
Sonhar com o “passado de promessas” não
é consolo e não resolve o “presente de imobilidade”.
A falta de um programa dinâmico de ação
política esmorece o progresso.
Felizmente, o político tem tempo
limitado no poder. Seria bom que ele se lembrasse disso: seu mandato sempre
chega ao fim.
O que ainda anima a comunidade é que
ela tem o poder do voto, e este poder se depura com a lucidez, a experiência e
a avaliação crítica atenta dos atos (ou da falta deles) dos políticos eleitos.
Ser esperançoso é não se amofinar com a
indiferença dos políticos-múmias, que demonstram acreditar que posto eletivo é
sarcófago, onde eles podem ficar instalados indefinidamente.
O descaso deles chega a “esfolar” seus
eleitores. Mas esse “esfolar” será como a ação do lapidador de diamantes, que
burila a pedra, lhe dá forma e extrai as impurezas, fazendo aparecer sua beleza
e seu brilho: o descontentamento do povo poderá se transformar em alegria, em um
futuro próximo.
O desgosto dos que colaboraram
voluntariamente e dos eleitores esquecidos por certo servirá de “elixir
cívico”, capaz de induzi-los a percorrer novos caminhos.
Agora que já sabemos que a pior seca
não é a da ausência de água dos desertos, e sim a da falta de compromisso com a
palavra empenhada; e que o sertão mais extenso não é o geográfico, mas o dos
políticos desinteressados, podemos seguir o exemplo dos pássaros, que voam
alto: não somos caranguejos! Vamos sair desse desanimador lodaçal de
baixa-estima!
A medida provisória mais à mão talvez
seja repensar a nossa maneira de confiar em homens de pensamento político
limitado. Eles têm até a voz macia e um sorriso de querubim. Mas, no íntimo,
são como estátuas de gesso: só têm aparência, mas carecem de vida e brilho.
Em vez de comemorar a data da
Independência do Brasil com os desfiles das escolas valinhenses na Avenida dos Esportes,
conforme a tradição cívica que sempre congregou a comunidade com pais e
familiares de alunos e professores para revigorar o sentimento de amor à
pátria, neste ano, todos terão de se conformar com o espaço particular de cada
escola.
Isto, porque a Comissão Organizadora das
comemorações de 7 de Setembro, presidida pelo secretário de Cultura e Turismo,
juntamente com o secretário da Educação, alega
ter muitas dívidas “que inviabilizam esse tipo de investimento”.
Texto Tom Santos |
Lamentável tal justificativa para não
promover a festa cívica mais importante do calendário nacional!
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