sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ser tão sertão



“Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos. O Sertão está em toda parte. Quando o senhor quiser sonhar, sonhe com aquilo... só estas veredas, veredazinhas. Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que 
o poder do lugar. Sei o grande sertão? Só quem sabe dele é urubu, gavião, 
gaivota, esses pássaros: eles estão sempre alto, apalpando ares, com 
pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas.” 
(João Guimarães Rosa, escritor).





Parafraseando Guimarães Rosa

E incoerente você criar, trabalhar e produzir sentido a emoção de quem está atuando em um sertão deserto.
Sentindo a sensação de que o deserto se alastrou, invadindo gabinetes, repartições, secretarias e todos os poderes. O mais desconcertante a nítida impressão de que administradores públicos e legisladores conseguiram apagar de seus registros mentais os compromissos assumidos.
Apenas veredazinhas de esperanças são percebidas, quando um ou outro membro da máquina administrativa confessa o descontentamento geral e lamenta a impotência da “união”, em clima de velório cívico.
Sonhar com o “passado de promessas” não é consolo e não resolve o “presente de inatividades”. A falta de um programa dinâmico de ação política esmorece o progresso. Felizmente, o político eleito tem tempo limitado no poder. É bom que se lembre disso.
O que ainda reanima a comunidade é que ela detém o poder do voto e este poder se depura com a lucidez, a experiência e a avaliação critica atenta dos atos (ou da falta deles) dos políticos eleitores. Ser tão esperançoso é não se amofinar com a indiferença dos políticos-múmias, que demonstram acreditar que posto eletivo é sarcófago onde eles podem ficar instalados por milênios.
A indiferença deles chega a “esfolar” seus eleitores. Mas este “esfolar” será como a ação do lapidador de diamantes, que burila a pedra, lhe dá forma e extrai as impurezas, fazendo aparecer a beleza do brilho. Nossas misérias vão se transformar em alegria, em tempo futuro.
O desgosto dos colaboradores voluntários e dos eleitores esquecidos, por certo servirá de “elixir cívico”, capaz de induzi-los para novas veredas.
Agora que já sabemos que a pior seca não é a da ausência de água dos desertos, e sim a da falta de compromisso com a palavra empenhada; que o sertão mais sem fechos não é o geográfico, mas o político desinteressado, vamos seguir o exemplo dos pássaros que voam alto.
A medida provisória mais à mão talvez seja repensar a nossa maneira de confiar em homens de pensamento político limitado.
Na próxima oportunidade, votemos revigorando nosso sentimento cívico e exercendo o direito de influenciarmos na mudança e de termos a continuidade dos traiçoeiros seres tão sertões.












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