“Às vezes,
certas cenas em torno do poder parecem piadas doTiririca.
A essa modalidade
pesada de demagogia, que consiste em engrupir o eleitorado com piadas infantis
enquanto o indizível se perpetra na escuridão do esgoto, dá-se o nome
tiririquismo: um pacto social tácito mediado por uma peruca branca e financiado
pela credulidade popular.”
(Eugênio Bucci, O Estado de S.Paulo, 18/9, A2)
Levando em
conta as poucas e raras exceções que justificam a regra, a grande maioria dos
candidatos ao Congresso nacional se assemelha à figura do palhaço escondido
atrás de um lençol branco, lavado e estendido: seu discurso é tão inócuo, sem
cores, propostas ou conteúdo como o pano que só revela uma sombra.
Esse tipo de
político tem a pretensão de “engrupir o eleitorado com piadas infantis”, como
se enganasse uma criança ingênua que só visse os balões coloridos seguros acima
do varal que prende o lençol, sem se aperceber da mão em garra, pronta a
“perpetrar o indizível na escuridão” dos conchavos feitos às escondidas e à
revelia do povo que ele representa.
Vale lembrar
que tiriricar não significa protestar contra tudo isso que está aí: melhor
pensar em candidatos que tenham propostas viáveis, e considerar que o Congresso
não é picadeiro, nem lugar de palhaço, muito menos de debochados.
Querendo se
divertir com as brincadeiras de palhaços, pode-se ir aos circos nacionais ou
assistir aos bonitos espetáculos do internacional Cirque du Soleil.
Ou visitar
museus, onde sempre se encontrarão obras de arte que exibem temas circenses.
Até Picasso retratou seu filho Claude, quando criança, fantasiado como se
fizesse parte de uma trupe de circo.
Mas para eleger
políticos responsáveis pelo Legislativo convém votar em quem tenha capacidade,
conhecimento e respeito aos valores éticos, morais e sociais.
Não! ao voto do tiririquismo: além de protesto inútil e grosseiro, é
um desperdício!
Edição n.º 954 - página 01